Jovem cega vence barreiras e conta história de superação

by Diário do Vale

Volta Redonda – Izabel Fumian Egídio, de 21 anos, é formada no curso de
magistério e deficiente visual. Tem um lema que carrega:
jamais desistir. Foi assim que conseguiu se habilitar a dar
aulas, mas o sonho agora já é outro. A jovem quer ser
psicóloga. E já está na luta para conseguir realizar mais
esta jornada.
O primeiro passo foi entrar no curso Pré-Vestibular Cidadão
(PVC), um programa do Movimento Ética na Política (MEP). Ela
já prestou o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), mas as
notas ainda não forma suficientes. Nada que desanime a moça,
acostumada a vencer barreiras para alcançar o que deseja. E
já faz planos, dizendo que o magistério a ajudará na carreira
de psicóloga e vice-versa.
– Quero ser professora para ajudar as crianças a perceberem
que não existe dificuldade. Nada limita a gente. As empresas
geralmente contratam deficientes físicos ou intelectuais, por
exemplo. É menos comum contratarem cegos, mesmo com a cota
para deficientes – diz Izabel.
No curso do MEP, Izabel relata que os professores não tinham
contato frequente com deficientes, mas mesmo assim ajudaram
muito. De acordo com ela, as notas subiram bastante.
– Na minha primeira semana, mesmo com a ajuda e o apoio,
confesso que pensei em desistir. Pensei que não ia dar certo,
pois os professores tinham outros alunos para ajudar. Meus
amigos e minha família me incentivaram. Não desisti. Estudei
e fiz a prova. Não consegui a nota que precisava, mas minhas
notas melhoraram muito e isto já é uma vitória – ressaltou.
A força de vontade da moça acabou se tornando inspiração e
ela foi convidada a voltar ao curso Pré-Vestibular Cidadão
(PVC) para contar sua experiência de vida. Para Izabel, tem
sido importante falar sobre as experiências que passou para
incentivar outras pessoas.
– Fui ate lá mostrar que é importante falar das dificuldades
e que muita gente mesmo sem deficiência acha que não vai
conseguir alcançar os objetivos. Desistem. A gente sempre
pode conseguir, não temos limitação nenhuma. Todos podem
conseguir – afirmou.
Para fazer a prova do Enem, Izabel ela precisou de um “ledor”
– pessoa que lê a prova para deficientes visuais – e recebeu
uma prova em braile. No próximo ano, ela pretende prestar a
prova novamente e dar continuidade ao sonho de cursar
psicologia.

Luta contínua

A jovem contou que nasceu sem a íris dos olhos e na primeira
escola era alfabetizada como criança com pouca visão.
Escrevia com caneta piloto e letras grandes. Algum tempo
depois, descobriu ter glaucoma e catarata congênita, que
ainda não operou.
– O apoio dos professores foi muito importante para mim e é
importante para outros alunos também. Geralmente eles não têm
capacitação para trabalhar com deficientes e ficam sem saber
como ajudar. Pelo menos os meus professores eram muito
solícitos, colaboravam muito. Pesquisavam para saber como
ajudar mais, procuravam por informações. – contou a menina.
Com aproximadamente 15 anos, Izabel começou a ter autonomia
para andar sozinha na rua. Algumas vezes, teve a autoestima
afetada, precisou se defender das pessoas e em alguns dias
não quis sair de casa. Nas ruas, ela anda com o auxílio da
bengala e diz que caçambas e buracos atrapalham bastante na
hora de andar. Para ela, usar o ônibus é bem mais fácil do
que andar na rua.
– Prefiro andar de ônibus porque as pessoas ajudam mais. O
motorista e o trocador me explicam e me ajudam onde preciso
descer. A ajuda é muito maior do que andando na rua. Minha
mãe fica mais tranquila de me deixar sozinha, mas ainda hoje
meu pai se preocupa – comentou a jovem.
Na escola, as amigas que fez enquanto cursava a segunda
metade do ensino fundamental a apoiavam muito. “Quando eu
tinha vergonha de usar a bengala elas me diziam para usar,
que não tinha razão para ter vergonha”, explica ela.
– Elas estavam certas. Usar a bengala realmente me da maior
mobilidade e independência.
Fazer amigos na primeira escola foi mais complicado. Segundo
ela, as crianças a criticavam por não entenderem as
diferenças. Na segunda escola, fez amigas com quem tem
contato até hoje. Saíam bastante, iam ao cinema, ao shopping.
Izabel diz que sempre gostou de aceitar os convites das
amigas para sair, pois acha importante ter vida social e
gosta de sair.
Com relação à tecnologia, os avanços são classificados por
ela como “ótimos”. Ela conta que antes não conseguia fazer
slides, por exemplo. Hoje, já pode participar de redes
sociais e utilizar o computador através de um programa faz a
leitura da tela.
Conta também que gosta de ler e que as opções são ler em
braile ou audiobooks, que são os livros falados. Na região,
consegue livros na Escola Doutor Hilton Rocha, onde estudou,
mas geralmente são mais infantis. Quando não tem algum livro
específico, a escola pode pedir no Rio de Janeiro, no
Instituto Benjamin Constant, centro de referência nacional na
área da deficiência visual.

 

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1 comment

guto 26 de agosto de 2018, 09:41h - 09:41

Querer o impossível não é razoável; desistir do possível não é humano. Muitos se frustam na vida porque almejam o impossível, e outros tantos não se realizam porque não sabem perseverar na luta pela conquista de tudo o que está ao seu alcance.
Parabéns a essa menina que me lembra a americana Helen Keller, que também era surda.

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