A China e o lado oculto da Lua

Robô: Carrinho vai explorar a cratera Von Karman (Foto: Chang’e4)

A China lançou com sucesso, na semana passada, a primeira missão ao lado oculto da Lua. A nave robô Chang’e 4 entrou em órbita lunar na quarta-feira passada e transporta um veículo do tipo Rover. Se tudo correr bem, a Chang’e 4 será a primeira nave a pousar no lado oculto da Lua, que nunca é visto da Terra. O local de pouso é a cratera de Von Karman, na bacia de Aitkin, perto do polo sul lunar. A manobra deve ser tentada nos primeiros dias de janeiro do ano que vem.

Uma missão ao lado oculto da Lua nunca tinha sido tentada, devido as dificuldades de comunicação, pois quando as naves Apollo passavam sobre o lado oculto da Lua elas ficavam sem contato com a base de Houston, porque a massa da Lua bloqueava as ondas de rádio. Para que isso não aconteça com a Chang’e4, os chineses colocaram um satélite de comunicações, o Quequiao, no ponto de Lagrange, a 65 mil quilômetros além da Lua. O satélite fará a retransmissão dos sinais de radio permitindo o contato com o robô explorador.

A Chang’e 4 é uma cópia da Chang’e3, que pousou com sucesso no lado visível da Lua em dezembro de 2013. Na ocasião ela desembarcou um carro robô, o Coelho de Jade, que enviou fotos e passeou pela região do Mare Imbrium. Ele descobriu um novo tipo de rocha basáltica, rica em ilmenita num local que não foi visitado por astronautas. Geralmente, ao projetar uma missão arriscada, as agências espaciais constroem duas naves idênticas, uma delas servindo de backup para a nave principal. A Chang’e 4 foi a reserva da missão anterior, e agora foi modificada para uma missão mais ousada.

O nome Chang’e é uma referencia a deusa da Lua na mitologia chinesa. A nave foi lançada na sexta-feira, 7 de dezembro, por um foguete Longas Marcha 3B que decolou do centro espacial de Xichang. Estavam previstas três manobras de correção de curso durante a viagem de quatro dias até a Lua, mas só uma foi necessária. Agora a Chang’e4 encontra-se numa órbita com um perilunio, ponto de maior aproximação, de 100 quilômetros sobre a superfície lunar. A Lua é um dos principais objetivos do programa espacial chinês e missões tripuladas por astronautas, ou taikonautas como se diz na China, estão previstas para a próxima década.

Antecessor: A Chang’e3 desceu na Lua em 2013 (Foto: Yutu)

Popularmente o lado oculto da Lua às vezes é chamado de “lado escuro”, um mito que foi popularizado pelo disco da banda Pink Floyd, The Dark side of the Moon lançado em 1973. Na verdade o lado oculto da Lua passa por períodos de dia e noite, de 14 dias cada um como todo o resto da Lua. No parque de diversões Disneylândia, na Califórnia, existiu durante muito tempo uma simulação de uma viagem ao redor da Lua que também mostrava o lado oculto mergulhado na escuridão. Mas isso era feito para efeito dramático, com a espaçonave lançando foguetes de magnésio para iluminar as crateras e montanhas ocultas.

Se o lado oculto da Lua fosse escuro, um robô como o Chang’e 4 não poderia funcionar lá, já que sua energia é obtida através de painéis solares. A região da bacia de Aitkin nunca foi explorada de perto e suspeita-se que contenha depósitos de água congelada em seu subsolo.

A China é o terceiro país a conseguir pousar naves robô na superfície da Lua, primeiro foi a extinta União Soviética com a série Luna dos anos de 1960. Seguida de perto pelas naves Surveyor dos Estados Unidos, mas todas as missões americanas e soviéticas aconteceram no hemisfério da Lua que é visível da Terra.

A missão anterior, da Chang’e 3 foi um sucesso, mas não resistiu ao frio e a escuridão da longa noite lunar. Depois de passar 14 dias mergulhados na escuridão, o carro robô chinês não conseguiu reativar suas baterias solares e deixou de funcionar. Espera-se que seu sucessor funcione por tempo suficiente para examinar a superfície e o subsolo desta região misteriosa, oculta do outro lado da Lua.

Partida: O lançamento do foguete Longa Marcha 3B(Foto: LongMarchLaunch)

Misterio: O lado oculto da Lua (Foto: Luaoculta)

Jorge Luiz Calife
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