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Sul Fluminense – Ser mãe é uma das experiências mais transformadoras da vida. Mas, diferentemente das imagens idealizadas que vemos nas redes sociais, a maternidade real é feita de noites mal dormidas, dúvidas silenciosas, brinquedos espalhados pelo chão e um coração que vive dividido entre o desejo de dar conta de tudo e o cansaço de tentar. Não é incomum que mulheres se sintam sobrecarregadas nesse papel. Afinal, durante muito tempo fomos ensinadas a acreditar que ser boa mãe é sinônimo de dar conta de tudo sozinha — o trabalho, a casa, os filhos, a vida conjugal, os cuidados com a saúde, com a aparência, com o emocional. E quando o corpo ou a mente pede pausa, a culpa chega primeiro: “Mas eu quis ser mãe”, “Tem tanta gente em situação pior”, “Não posso reclamar”. A verdade é que querer bem um filho não significa ser imune ao cansaço. Amar não é dar conta de tudo — é, justamente, reconhecer os próprios limites para seguir cuidando com mais presença e saúde. E aí entra um ponto essencial, que muitas vezes é ignorado: é possível — e necessário — pedir ajuda.
A armadilha da culpa
A culpa materna tem raízes profundas. Ela nasce da pressão cultural de ser “mãe perfeita”, uma figura quase mitológica que tudo suporta e nunca falha. Quando a realidade bate à porta — com o bebê chorando, o almoço atrasado, o e-mail urgente do trabalho —, essa imagem perfeita começa a desmoronar. E ao invés de acolhermos nossa humanidade, nos punimos por não sermos super-heroínas.Mas vale lembrar: a culpa nem sempre é sinal de erro. Muitas vezes, ela só mostra que você está se cobrando além da conta. Sentir-se exausta não é falha de caráter. É sinal de que algo precisa mudar.
Por que é tão difícil pedir ajuda?
Pedir ajuda pode parecer uma confissão de fraqueza. Muitas mães relatam medo de serem julgadas ou de parecerem incompetentes. Outras nem sabem por onde começar porque estão tão mergulhadas na rotina que mal conseguem nomear o que precisam.
Além disso, existe a falsa ideia de que o cuidado com os filhos é uma responsabilidade exclusivamente materna. Não é. Cuidar de uma criança é tarefa de uma rede, de um parceiro, familiares, amigos, vizinhos, profissionais.
Como começar a pedir ajuda, sem culpa
- Reconheça seus limites: O primeiro passo é validar o que você sente. Se está cansada, irritada, esgotada — esses sentimentos não são frescura, são sinais legítimos. Dê nome ao que está difícil.
- Reflita sobre o que pode ser dividido: Quais tarefas você está assumindo sozinha que poderiam ser compartilhadas? Fazer essa lista é libertador. Às vezes, você vai perceber que está sobrecarregada com coisas que ninguém te pediu, mas que você assumiu por costume ou pressão interna.
- Comunique com clareza: Não espere que o outro adivinhe. Fale com gentileza, mas com firmeza. Algo como: “Preciso de ajuda para preparar o jantar nos dias da semana”, ou “Pode buscar as crianças na escola duas vezes por semana? Está pesado pra mim”.
- Permita-se aceitar ajuda: Quando alguém se oferece para cuidar das crianças por uma tarde, dizer “sim” não é abandono, é autocuidado. Delegar não diminui o valor do seu amor. Ao contrário, te ajuda a estar melhor para os momentos em que quiser estar presente.
- Envolva os filhos no processo: Se forem maiores, chame-os para participar das tarefas, ensine-os sobre colaboração. Isso não apenas te ajuda, como os prepara para a vida com mais empatia e responsabilidade.
A maternidade possível
Não existe maternidade perfeita, existe maternidade possível. Aquela que reconhece que uma mãe feliz não é a que faz tudo, mas a que se cuida para continuar amando com saúde. Se você está cansada, peça ajuda. Se está chorando no banheiro, escreva para uma amiga. Se sente que precisa de mais suporte emocional, procure um profissional. O cuidado com você é também um cuidado com seus filhos.Acolha sua humanidade. Sua vulnerabilidade não te diminui como mãe, te aproxima da verdade, da conexão e da força que existe em pedir socorro quando necessário. Ninguém nasceu para ser ilha. E você não precisa estar sozinha.
Paty Lee é psicanalista, psicopedagoga, palestrante nas áreas de ensino, inteligência e gerenciamento emocional. Ela também é professora, Neuropsicopedagoga, coach e escritora dos livros ‘Quando a infâcia dói’ e ‘O poder de uma vida equilibrada’.