Sul Fluminense – O abuso sexual é um problema profundamente enraizado em nossa sociedade, com impactos que muitas vezes são amplificados ou minimizados por construções culturais distorcidas. Sulamita Fonseca, terapeuta especializada na análise de padrões comportamentais, oferece uma visão detalhada sobre as diversas dimensões desse problema, abordando as questões culturais, psicológicas e emocionais que cercam o abuso sexual. Em muitas culturas, o abuso sexual, especialmente quando perpetrado por mulheres contra meninos, é banalizado e, por vezes, até ridicularizado. Sulamita destaca como essa visão desumana e prejudicial transforma o sofrimento da vítima em uma “sorte” ou “privilégio”, exacerbando o trauma. A família, em muitos casos, reforça essa percepção errônea, deixando a vítima sem o apoio necessário para lidar com a dor.
Essa distorção cultural tem consequências devastadoras. Meninos abusados frequentemente crescem com uma compreensão distorcida dos limites e do consentimento, o que pode levá-los a internalizar o abuso como algo positivo ou uma marca de masculinidade. Isso não só perpetua um ciclo de violência e exploração, como também contribui para a construção de uma sociedade doente, onde o trauma é perpetuado.
A realidade dos números
Os números são alarmantes: cerca de 40% dos homens e 70% das mulheres já sofreram algum tipo de abuso sexual. Contudo, a cultura machista que exige que os homens sejam sempre fortes e não mostrem vulnerabilidade muitas vezes os impede de buscar ajuda ou de compartilhar suas experiências. Isso os deixa carregando um fardo emocional imenso, sem o suporte necessário para superar o trauma.
É essencial compreender que, embora muitos abusadores tenham sido vítimas de abuso no passado, isso não justifica ou minimiza seu comportamento. Sulamita explica que nem todo sobrevivente de abuso se tornará um abusador, mas muitos enfrentam desafios profundos relacionados às suas experiências passadas. A terapeuta compartilha sua experiência em ajudar pessoas que, após sofrerem abuso, lutam contra impulsos perturbadores, destacando que, com o apoio adequado, é possível superar esses desafios e evitar a perpetuação do ciclo de abuso.
A responsabilidade dos adultos
Sulamita utiliza uma metáfora poderosa para descrever a sexualidade de um indivíduo, comparando-a a um “potinho” de energia sexual formado na infância. Quando uma criança é exposta a estímulos sexuais inadequados, esse “potinho” é aberto prematuramente, resultando em uma exploração descontrolada da sexualidade. A responsabilidade dos adultos é crucial para proteger as crianças de comportamentos prejudiciais e educá-las sobre a importância de respeitar os limites do corpo.
O abuso sexual é um tema vasto e multifacetado que deve ser enfrentado com compreensão e empatia. Sulamita Fonseca enfatiza a importância da conscientização sobre as dinâmicas e os impactos do abuso para lidar com o trauma e evitar a perpetuação de comportamentos prejudiciais. Se você ou alguém que você conhece está lutando com os efeitos do abuso sexual, busque ajuda. Lembre-se: o abuso não define quem você é, e é possível curar-se e criar um futuro mais saudável e respeitoso.
Sulamita Fonseca é terapeuta de análise corporal, especialista em acolhimento a mulheres vítimas de agressão e criadora do curso de gestão emocional, resgate dos fragmentos de vida
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