Sul Fluminense – O ano letivo já começou em algumas cidades da região e, após quase dois anos de pandemia, um dos desafios para muitas crianças será recuperar o tempo e o aprendizado que foi perdido com a interrupção das aulas nos anos de 2020 e 2021. Uma das opções para muitos pais, conforme apontam profissionais da área de pedagogia são as aulas de reforço, principalmente para os alunos da fase da alfabetização, considerados como os que foram mais prejudicados nesse período.
De acordo com a professora Maria Alice Cianni, há cinco anos ela está trabalhando com aulas de reforço e atendimento pedagógico e, embora sempre houvesse procura, nos últimos dois anos ela percebeu uma preocupação maior por parte dos pais. Prova disso é que mesmo durante as férias ela manteve os trabalhos, atendendo aos pedidos dos próprios pais.
– Fiquei com a agenda cheia neste período de férias e já entrei o ano sem parar e praticamente com as vagas lotadas para a volta às aulas. Infelizmente as crianças têm apresentado um déficit devido à pandemia e as consequências de 2020 serão sentidas ainda durante um período que eu não posso mensurar. Hoje estou com 15 alunos e observo que todos os anos estão com dificuldades – ressaltou a professora.
A professora Shirlene de Oliveira Souza também dá aulas particulares e reforça que a preocupação maior seja com as crianças na fase da alfabetização, que acontece até o 3º ano do ensino fundamental. Segundo ela, o que pôde ser constatado no ano passado foi um déficit muito grande em crianças nesse período, sendo que algumas não sabiam nem mesmo reconhecer vogais e consoantes, não sabiam diferenciar ou identificar, em contexto, pronúncias e ainda apresentavam dificuldades na fala.
– As crianças estão com dificuldades de assimilar. Para se ter um exemplo: entre dez alunos que tive, quatro não sabiam identificar o próprio nome todo, escreviam apenas o primeiro nome e não identificavam dentro de textos as letras do nome. Tive que fazer trabalhos de dois períodos em um ano para começar a identificar, mesmo usando múltiplos materiais como filmes, jogos pedagógicos e materiais concretos. Cada criança tem o seu jeito e seu tempo para ser alfabetizada e aprender esse processo, mas, o que se observa é que está cada uma em um nível e isso requer um trabalho individual – pontuou.
Com relação às aulas, Shirlene ressaltou que no ano passado a procura só começou em junho, quando foi anunciado o retorno parcial nas escolas, no entanto, muitas crianças não deram continuidade. Uma situação que segundo ela é preocupante, uma vez que não há como prever quanto tempo cada criança levará para voltar a se concentrar e assimilar os conteúdos.
– Com o retorno das aulas nas escolas e quando os professores começarem a chamar os pais, para expor as dificuldades das crianças, eu acredito que os pais vão buscar um apoio especializado para ajudar essas crianças que, realmente, estão precisando muito – acrescentou a professora.
Apoio da família
Conforme avalia a psicopedagoga Cândida Mara Bruno de Paiva, mesmo com as escolas voltando com as aulas normais, as famílias terão um papel fundamental para auxiliar as crianças na retomada do aprendizado. .Segundo ela, os professores de anos iniciais viram muitas dificuldades em alunos de primeiro, segundo e terceiro ano que, somente no horário da escola, não conseguiram absorver o que realmente precisam.
– Daqui pra frente os pais deverão ter uma participação maior porque esses dois anos perdidos refletiram muito na educação das crianças. As famílias vão precisar se reinventar para ajudar essas crianças e, para aquelas que não têm condições de pagar uma aula de reforço, a minha recomendação é que montem um programinha de estudo com a criança e que busquem a ajuda da professora com exercícios que possam ser feitos em casa. Se os pais não tiverem o interesse de ajudar, essa criança vai ficar agarrada – alertou a psicopedagoga.
Segundo ela, nas salas de aula, incluindo todos os anos e turmas, existem vários níveis de desenvolvimento. Em função disso, em 2021, as professoras precisaram trabalhar com até quatro tipos de atividades em níveis diferentes porque as crianças não conseguiam, de maneira uniforme, fazer a mesma atividade.
– É uma coisa nova, uma nova realidade que os professores estão enfrentando. No ano passado, após o retorno, muitas terminaram evoluídas, mas, muitas ficaram para trás. Essa geração vai ter uma perda significativa e acredito que esse seja um reflexo não só das escolas públicas, mas nas particulares também – avaliou.