Com hospital superlotado, Barra Mansa pode sofrer se houver surto de dengue

by Diário do Vale

Barra Mansa – Com a crise na saúde pública e dependendo exclusivamente da Santa Casa de Misericórdia e da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Região Leste para atender a população, principalmente nos casos mais urgentes, Barra Mansa pode não conseguir suportar um possível surto de dengue, como ocorre em todo o verão. O alerta foi feito pelo provedor da Santa Casa, Jair Fusco, em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO VALE.

Ele afirmou que na atual situação, o hospital já ultrapassou o limite de atendimento, não tendo condições para atender a um possível aumento na demanda de pacientes com suspeitas de dengue, zika ou chikungunya, típicos do verão.

– A Santa Casa não tem condição para atender a esse tipo de paciente, já que ele necessita de um tratamento especial; uma cadeira reclinável, um leito para internação e hoje temos pacientes internados até no corredor. Após o fechamento da UPA Centro meu quantitativo dobrou. São mais exames, mais pedidos de raio-X, mais internações. Não há vagas no hospital, é uma pessoa aguardando para receber alta e dois, três na fila para entrar – disse Fusco, informando que atualmente são cerca de 230 pessoas internadas no hospital.

Antes dos casos de dengue surgirem, Fusco disse que a preocupação da Provedoria é com o aumento na demanda neste mês de novembro e dezembro – período marcado pelas festas de fim de ano e que normalmente há crescimento dos casos de emergência. O provedor foi categórico ao dizer que nem a Santa Casa e nem mesmo a rede de saúde do município possuem condições para suportar uma epidemia de dengue, ou de outras doenças causadas pelo Aedes aegypti.

– Não existe plano B. Todo ano é um número astronômico de pacientes nesta época do ano, antes conseguíamos até atender mas dessa vez por conta desse caos que estamos vivendo não vamos ter condições. Barra Mansa não terá condições – garantiu Fusco.

Ele explicou que atualmente o déficit mensal da Santa Casa, que é uma instituição filantrópica, é de R$ 800 mil, chegando a quase R$ 10 milhões por ano. E que apesar de atender pacientes através de convênios e consultas particulares, a maior e grande parte dos pacientes são do SUS (Sistema Único de Saúde). Pelo serviço prestado, a instituição recebe verba da União, do Governo do Estado e uma contrapartida da prefeitura. Essa última está regularizada após o firmamento de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) que prevê o pagamento da dívida do município com a Santa Casa. O TAC foi assassinado por intermédio do Ministério Público Estadual em setembro deste ano.

Fusco revelou que reforçou o contingente do hospital e que o governo municipal chegou a propor o pagamento de R$ 250 mil para que a Santa Casa pudesse fazer o serviço que a UPA Centro fazia, no entanto, o valor não seria suficiente, de acordo com o provedor.

– Com R$ 250 mil eu não consigo contratar a equipe médica, por exemplo. E não é só isso, preciso contratar segurança, pessoal responsável pela higienização, administrativo, motorista, maqueiro, então não é tão simples assim. Precisaria para manter isso cerca de R$ 700 mil a R$ 1 milhão por mês – falou, acrescentando que apesar dos problemas está conseguindo manter a folha de pagamento dos profissionais em dia.

População sofre com a demora em atendimentos e superlotação

Buscando conhecer um pouco a realidade de quem precisa de um atendimento médico na cidade, o DIÁRIO DO VALE conversou com pacientes nas filas de espera e percorreu algumas unidades de saúde. Hoje, quem precisa de um atendimento médico em Barra Mansa pelo SUS precisa procurar a UPA da Região Leste, que fica no bairro Nove de Abril – limite com Volta Redonda – ou se “aventurar” na Santa Casa, já que o hospital sofre com a superlotação.

O pintor automotivo Marco Vinícius Fonseca Constâncio foi até a Santa Casa na esperança de conseguir ser avaliado por um médico. Ele relatou que sofre com fortes dores nas costas, principalmente na região lombar. A suspeita é que esteja com uma hérnia de disco, mas o diagnóstico e o início do tratamento só podem ser feitos por um profissional da saúde.

– Eu tenho sentido essa dor há bastante tempo, mas procuro o posto de saúde do bairro não tem médico, aí mandam a gente vir para a Santa Casa. Chega aqui a gente espera por várias horas por um atendimento e mesmo assim não tem uma solução. Estou desempregado, então não tenho condições de pagar uma consulta particular e com essa dor não posso nem pensar em trabalhar. Como vou fazer para me movimentar? Minhas pernas estão dormentes de dor. Sei que vai ser preciso fazer uma ultrassonografia e parece que o aparelho está quebrado aqui. Estou quase desistindo – relatou o paciente que estava na aguardando atendimento por quase quatro horas, com cerca de 10 pessoas na fila de espera.

Acompanhado por duas tias, Sebastiana Severina e Ilda da Silva Pereira, Marco Vinícius contou que procurou atendimento depois que as dores pioraram, e que chegou a se automedicar, já que não conseguiu ser avaliado por nenhum médico, nem mesmo no posto de saúde onde mora.

– A gente espera que ele consiga ser atendido hoje e o médico passe um remédio, um exame, porque está difícil, viu? Até no particular. Já fomos em vários lugares e nada. Pobre é igual peteca, só apanha e vai de um lado para o outro. E o governo é um empurrando a responsabilidade para o outro – desabafou Ilda, lembrando que uma ultrassonografia da qual o sobrinho precisa está na faixa de R$ 700 a R$ 1 mil.

A esperança do trio era de que o médico avaliasse a situação de Marco Vinícius e solicitasse a internação dele, para que fosse medicado e tivesse supervisão médica. Situação semelhante vivida pela pedreira Luciana Vitorino Araújo. Ela também aguardava por um longo período atendimento médico depois de se sentir mal enquanto trabalhava.

– Passei mal quando estava trabalhando e vim para cá, buscar um atendimento médico. Mas estou aqui há quase quatro horas e nada. Tenho um cisto no ovário, que inclusive foi descoberto aqui (Santa Casa) quando tinha 14 anos e preciso de uma medicação. O ruim é que a gente fica aqui na fila esperando, sentindo dor, sem atendimento e nem mesmo uma medicação. Pedi para o pessoal do meu trabalho trazer um remédio – disse Luciana.

A dona de casa Luciana Cristina acompanhava o tio, de 79 anos e por ter prioridade já estava sendo atendido. Apesar disso, ela comentou sobre como vê a situação da Saúde em Barra Mansa. – A saúde em Barra Mansa está péssima. Tive um problema na tireoide no ano passado e procurei o PS da Vila Independência, onde moro para pedir a realização de um exame mas a autorização só saiu agora, em outubro deste ano. Como precisava com urgência, fiz um plano de saúde participativo do meu marido e consegui fazer os exames e fazer a cirurgia para a retirada de um tumor na tireoide. A situação é muito precária. Imagina se eu tivesse que esperar por um ano para conseguir fazer só o exame? – questionou.

Espera: População sofre com espera na Santa Casa, já que o hospital sofre com a superlotação (Foto: Arlindo Novais)

Demora: População sofre com espera na Santa Casa, já que o hospital sofre com a superlotação (Foto: Arlindo Novais)

 

Secretária orienta uso de UBSFs e garante preparação contra dengue

A reportagem do DIÁRIO DO VALE procurou a secretária de Saúde de Barra Mansa, Cláudia Xavier, e conversou com ela sobre a situação do setor no município. Quinta responsável pela pasta somente na atual gestão, Cláudia concordou que há problemas, como em todo o país, mas disse que desde que assumiu a secretaria, em julho deste ano, tem tentado atingir metas e, de acordo com a própria, tem conseguido.

– Nós estávamos há oito meses sem fornecer fitas de glicemia a qualquer diabético, e agora já temos estoque para quatro a seis meses, tudo disponível à população na Farmácia Municipal (que fica próxima à delegacia da Polícia Civil, no Centro). Também recebemos nesta semana remédios que estão sendo distribuídos nas unidades de saúde dos bairros e na própria Farmácia Municipal. Conseguimos reestabelecer a UPA Leste que é toda tocada pela prefeitura. Não temos relatos de superlotação, estamos com medicamentos lá e com a presença de profissionais. Um ou outro ainda falta, mas até o final desta semana estamos com a equipe completa – afirmou.

Contrariando a opinião do provedor da Santa Casa, a secretária disse que o município está preparado para atender aos casos de dengue e outras doenças causadas pelo mosquito Aedes aegypti.

– Estamos preparamos sim. Não foi durante a minha gestão, mas sei que o laboratório municipal recebeu um equipamento, doado pelo estado, para fazer análise do material, no caso o sangue, para dar um retorno o mais rápido possível e dessa forma iniciar o tratamento à doença. A UPA Leste está preparadíssima para fazer os atendimentos necessários e os agentes de endemias, ligados à Vigilância Ambiental, fazendo todo o trabalho de conscientização e prevenção – afirmou, lembrando a realização de um evento da Secretaria Municipal da Saúde, na Praça da Matriz, na última sexta-feira que chamou a atenção da população sobre a importância de se tirar 10 minutos durante a semana para fiscalizar e acabar com criadouros do mosquito.

Sobre a superlotação na Santa Casa e a demora nos atendimentos, a secretária pediu para que a população procure as unidades de saúde nos bairros.

– Temos 39 Unidades de Saúde da Família com médicos e enfermeiros e a partir desta segunda-feira vão estar recebendo medicamentos. Não estamos tendo problema de atendimento nos postos. Gostaria de pedir que a população evitasse procurar a Santa Casa ou a UPA por causa de pequenos problemas, como uma dor de garganta, de ouvido, e buscasse atendimento nessas unidades porque lá têm profissionais capacitados para atender a uma doença de baixa complexidade e que deixasse para procurar os postos de pronto-atendimento somente naqueles casos mais complexos, uma hipertensão descontrolada, uma dor insuportável, um acidente que possa ter ocorrido, para não sobrecarregar essas unidades, uma vez que temos outras 39 em pleno funcionamento – afirmou.

Hospital da Mulher

Cláudia explicou que o Hospital da Mulher, no Ano Bom, está funcionando e é voltado para o atendimento de gestações de alto risco. O que ocorre hoje, segundo a secretária, é que a UTI Neonatal que funcionava através da Osmipes está fechada mas que o imbróglio está sendo solucionado para que a unidade possa reabrir.

Então as pacientes que se encaixam nesse perfil de alto risco na gestação estão sendo colocadas numa fila, e à medida que for surgindo vagas em outros hospitais, são transferidas. A gerência é feita pela Governo do Estado.

 

Demora na realização de exames

A secretária ainda disse que Barra Mansa sofre com a falta de infraestrutura nas unidades de saúde e até mesmo com relação à regulação.

– Barra Mansa tem uma dificuldade de informatização. Pela sua localização geográfica, nós não temos condições de colocar internet em todas as unidades. Esses exames e consultas com especialistas poderiam ser todos agendados através de um sistema gratuito do Ministério da Saúde. Se isso acontecesse essas consultas e exames seriam feitos com maior agilidade. Eles passariam por classificação – urgência e eletivos -, e os casos mais graves teriam maior prioridade porque o sistema oferece isso, mas como na cidade nós temos essa dificuldade da internet, hoje tem sido feito manualmente – revelou, frisando que esses pedidos precisam passar por um crivo de um técnico da saúde para priorizar os casos mais urgentes e isso acaba se tornando mais uma dificuldade.

UPA Centro X UPA Leste

Questionada sobre qual a diferença entre a UPA Centro e a UPA Leste, Cláudia disse que a que está fechada era gerida por uma Organização Social, a Osmipes, em parceria com o Governo do Estado, e que todo o valor de que é responsabilidade do governo municipal está quitado com a OS, ou seja, o pagamento de funcionários teria que ser feito pela Osmipes. Já a da Região Leste é toda administrada pela prefeitura.

– A UPA Leste é toda com recursos do município, os profissionais são contratados pela prefeitura. Nós recebemos apenas R$ 175 mil do Governo Federal para manter a unidade e o restante do recurso é próprio. A UPA Centro, desde que foi inaugurada, começou com a Cruz Vermelha fazendo a administração. A Cruz Vermelha teve que sair, entrou a organização social ICN, que perdeu esse título de OS, e foi seguida pela Osmipes, mesmo modelo de organização social. Para que a prefeitura absorvesse toda a mão de obra, ela atingiria o percentual da Lei de Responsabilidade Fiscal. Então, na época optou-se por esse modelo de gestão – esclareceu a secretária.

Ao ser perguntada se achava que o modelo de OS seria o ideal para a saúde pública, Cláudia falou: “Na minha opinião, como profissional do SUS, terceirizar serviço de saúde é a contramão do que o SUS prega. Acredito que todos os serviços devem ser prestados pela prefeitura, infelizmente não temos estrutura para oferecer todos os serviços. Na medida do possível, se eu tivesse tido mais tempo era o que nós estaríamos tentando trabalhar”.

A prefeitura de Barra Mansa informou que o Governo Federal repassa o valor de R$5.404.245,29 à secretaria de Saúde. Sendo esse valor dividido entre os setores de Assistência Farmacêutica, Atenção Básica, Média e de Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar, além da Vigilância em Saúde.

A prefeitura informou ainda que o Governo do Estado não está fazendo o repasse de verbas ao município. A UPA Centro não recebe verba há 18 meses. Entre os setores afetados estão: medicamentos, sem recursos há 33 meses; Insumos, há 21 meses; Opo (Organização de Procura de Órgãos), há 13 meses; Cofinanciamento, há 21 meses e Pahi (Programa de Apoio aos Hospitais do Interior), há 13 meses.

 

Por Arlindo Novais

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4 comments

Junior 14 de novembro de 2016, 10:01h - 10:01

Uma cidade que possui Santa Casa e não tem Pediatra para atender as crianças pelo SUS tem que entrar em estado de Calamidade Publica! O Pior que tem que cobrar do Estado também o Hospital Regional que nunca sai do papel porque será! ABSURDO!

Abusado 14 de novembro de 2016, 09:40h - 09:40

Faz igual o Trump, constroi um muro e faz barra mansa pagar.

Emiliano Zapata 14 de novembro de 2016, 09:34h - 09:34

Esta secretária de saúde deveria ter vergonha na cara. A UPA Leste está com atendimento restrito. Moro em Barra Mansa é a saúde está no fundo do poço. É a cara da administração do prefeito Jonas Marinho uma bagunça.

Yvonny 13 de novembro de 2016, 16:20h - 16:20

Infelizmente virão pra Volta Redonda! O que está mais ou menos, vai ficar muito ruim. É aquilo, não pode negar atendimento mas pode tirar o atendimento de quem é da cidade. Fazer o que?

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