Crise pode ajudar na relação entre pais e filhos no Dia das Crianças

by Diário do Vale

Barra Mansa – Cada vez mais antenados, seja na internet ou nos canais infantis, não há como negar: hoje em dia as crianças são um alvo preferencial da publicidade e, segundo pesquisa do Instituto Interscience, elas participam do processo decisório em 80% das compras da casa.

Com a chegada do Dia das Crianças – 12 de outubro – a situação não será diferente. Com isso, muitos pais estão tendo que se desdobrar para conseguir o melhor preço e atender aos desejos dos filhos, sem que comprometam seus orçamentos.

Mãe da pequena Beatriz da Silva Santos, de cinco anos, a autônoma Tatiana da Silva Santos, de 34 anos, afirma que já tentou convencer a menina a escolher outro presente, no entanto, sem sucesso. Segundo ela, a boneca escolhida, Baby Aline, tem publicidade maciça em todos os intervalos dos canais de desenho que ela mais assiste. O modelo da boneca, segundo a dona de casa, variam de R$ 150 até R$ 500.

– Essa é a boneca do momento. Tentei faze-la desistir e deixar para ganhar no Natal, mas sem sucesso. Eles são pequenos, mas cheios de argumentos e nos pegam pelo coração. Quando disse que não poderia comprar, ela chorou, disse que as primas e as amigas tinham e ela não. Aí, não teve jeito. Eu e meu marido trabalhamos e vamos dividir a despesa na compra da boneca. Não tem jeito, só quem é pai e mãe sabe como é bom ver um filho feliz – comentou Tatiana, ao ressaltar, porém, que o modelo negociado com a filha foi o mais barato, ou seja, o que coube no orçamento dela e do marido.

A bióloga Aline Oliveira dos Santos, de 29 anos, também não teve como escapar do pedido do filho, de sete anos. De acordo com ela, ele pediu um tênis com rodinhas, com luzes que piscam, no valor de R$299 reais. O produto, conforme afirma a mãe, foi descoberto por meio de comerciais no intervalo da programação dos canais infantis que ele assiste no dia a dia.

– Hoje em dia é a TV que influencia o desejo das crianças, infelizmente. Tentei fazer ele escolher outra coisa, mas ele não abriu mão do tênis. Sempre que passava o comercial ele dizia que era o que gostaria de ganhar e, então, eu e a minha mãe compramos juntas, para não pesar no bolso de ninguém – disse a bióloga.

Encaixe no orçamento

Conforme avalia o empresário Xisto Vieira Neto, proprietário de uma loja de brinquedos, roupas, calçados e artigos infantis, o que se percebe é que, mesmo em tempos de crise, os pais procuram, sempre,  encaixar o presente do filho no seu orçamento. As alternativas vão desde a escolha de algum presente mais em conta, ou um parcelamento mais confortável às suas possibilidades. “E isso acontece porque a felicidade dos filhos é sempre prioridade”, comenta o empresário, que dispõe na sua loja todos os brinquedos que hoje têm grande apelo na TV.

– Não há como negar que a televisão influencia diretamente na hora da criança escolher o que quer. Hoje crianças que nem sabem ler, já operam celulares, assistem canais de TV, youtube, já sabem o que querem e brigam por isso – comenta o empresário, ao ressaltar que as opções são quase ilimitadas, desde lançamentos de Lego, que tem feito grande sucesso, Star Wars, Hot heels, personagens como a linha Avengers, Turma da Mônica, Baby Alive, Barbie e muitos outros ligados a personagens de desenhos animados de TVs por assinatura.

De acordo com Vieira, mesmo em meio à crise, a confiança no setor de varejo está sendo retomada, aos poucos e, com isso, a expectativa é que as vendas para esse Dia das Crianças tenha um aumento de até 5% com relação ao ano passado. E uma boa noticia para os pais é que, além de crediários próprio, os presentes podem ser comprados e parcelados nos cartões de crédito ou com descontos, à vista.

– Os pais só devem se atentar ao fato de que, com o momento difícil da economia, as empresas têm trabalho com estoques menores e com isso os itens mais procurados podem acabar rápido.  Sendo assim, mais do que nunca, é bom evitar para deixar as compras para última hora – destaca o empresário.

Estabelecendo metas

Para a economista Paloma de Lavor Lopes, para que os pais evitem gastos exorbitantes, nesse Dia das Crianças, o primeiro critério é saber como anda a “saúde” financeira da família. Isso porque, conforme destaca, “não adianta dar um presente e depois se endividar por meses”.

Conforme orienta a economista, o ideal é conversar com os filhos e estabelecer uma meta máxima de gasto que não “agrida” tanto o bolso.

– Muitas vezes, pequenos presentes em maiores volumes, agradam mais as crianças do que apenas um extremamente caro. Sabemos que o mercado de brinquedos têm opções de produtos caros e que, geralmente, são os que mais atraem as crianças. Nesses casos, os pais devem conversar com a criança para que ela estabeleça qual brinquedo deseja, em primeiro lugar. Depois, é mais fácil combinar quando os pais poderão comprar, seja no aniversário, seja no Natal. As crianças precisam saber a situação financeira da família e participar das decisões – disse Paloma, ao acrescentar que comprar á vista é sempre a melhor opção, uma vez que esse tipo de pagamento sempre garante bons descontos junto aos lojistas.

Gente grande: Pais e crianças devem conversar mais francamente sobre situação econômica (Foto: Roze Martins)

Gente grande: Pais e crianças devem conversar mais francamente sobre situação econômica (Foto: Roze Martins)

Brasileiros pretendem gastar menos com presentes para o Dia da Criança

Os brasileiros pretendem gastar menos com as compras de presentes para o Dia da Criança, segundo a Sondagem de Expectativas do Consumidor, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). A pesquisa foi feita no período de 1º a 22 de setembro com 2.101 domicílios em sete capitais brasileiras.

O indicador que mede a intenção de gastos para a data atingiu 59,3 pontos este ano, menor valor da série histórica, mantendo a tendência declinante iniciada em 2014, quando atingiu 85,6 pontos. Em 2015, o indicador de ímpeto de compras ficou em 63 pontos.

– Houve estabilidade em 2012 e 2013 e a partir daí, o indicador começou a cair – disse a economista Viviane Seda Bittencourt, coordenadora da Sondagem do Consumidor.

A proporção dos consumidores que tencionam reduzir os gastos no Dia da Criança aumentou de 41,1% para 44,9%. Segundo a economista, isso é um reflexo da cautela de todo o período de recessão que o país atravessa.

– Há uma melhora nas expectativas dos consumidores para os próximos seis meses, mas ainda a intenção de compra se mostra cautelosa. Apesar de os consumidores estarem com perspectivas mais favoráveis para o futuro, eles ainda estão cautelosos, preferem não arriscar no momento em relação às compras que não são uma necessidade básica, digamos assim – disse.

Viviane disse que a continuidade da tendência de queda da intenção de compras vai depender de alguns fatores. A cautela das famílias, no momento, é reflexo de um orçamento mais comprometido com prestações anteriores e também pela alta taxa de juros, que influencia no valor dos gastos, com amortização de empréstimos, com financiamentos, e com uma inflação que agora começou a ceder na parte de alimentos, mas vinha se mantendo elevada, e um mercado de trabalho que ainda não voltou a se recuperar. Ela disse que se houver alguma mudança nesses fatores, que são os principais influenciadores da cautela das famílias, há possibilidade de melhoria da intenção de compra, mas não em uma velocidade significativa. “Pode ser, provavelmente, gradual”.

Valor médio

O valor médio dos presentes para o Dia da Criança, apurado pelo Ibre, ficou em R$ 79,63, mostrando queda real, isto é, descontada a inflação, de 6,3% em relação ao valor médio de 2015 (R$ 85).

A faixa de renda que mais contribuiu para a redução do preço médio de presentes no Dia das Crianças, este ano, foi a dos que recebem até R$ 2.100 por mês, cujo valor caiu 12,2% em comparação ao ano anterior, passando de R$ 54,17 para R$ 47,58. Na faixa de renda de R$ 4.800 a R$ 9.600 mensais, a queda média atingiu 2,7% (de R$ 83,22 para R$ 80,95). Na faixa de renda acima de R$ 9.600, o preço médio dos presentes foi o mais alto (R$ 122,54 este ano), apesar de indicar também queda ante o preço médio apurado em 2015 (R$ 130,80).

A preferência dos consumidores para os presentes no Dia da Criança é liderada por brinquedos, com  55,4% das intenções por este tipo de presente, embora mostre redução em relação ao ano passado, quando alcançou 58,2%. Segue-se vestuário, com 24,5%, sinalizando estabilidade frente a 2015 (24,4%). O mesmo ocorreu em relação a livros (5,3% em 2016 contra 5,6%, em 2015), a dinheiro (2,8% contra 2,9%) e a eletrônicos (1,6%, este ano, ante 1,5%, no ano passado). “Brinquedo, realmente, é o presente mais citado”, disse Viviane Seda Bittencourt.

Da mesma forma que no preço dos presentes, a sondagem observou que a queda na intenção de compras de bens duráveis foi mais forte na faixa um (até R$ 2.100). O indicador era 57,4 pontos, em 2015, e caiu para 43,6 pontos, este ano, “o menor dentre as faixas de renda”, disse Viviane. Na faixa de renda mais alta, acima de R$ 9.600/mês, ao contrário, foi registrado aumento da intenção de compras, que subiu de 68,9 pontos, no ano passado, para 73 pontos, em 2016. “Foi a única renda que não houve diminuição da intenção de compra”.

 

Por Roze Martins

Especial para o DIÁRIO DO VALE

 

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Revoltado 9 de outubro de 2016, 19:48h - 19:48

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