Volta Redonda – O diretor-presidente do DIÁRIO DO VALE, Aurélio Paiva, foi o entrevistado da noite de ontem do programa Boa Noite Interior, da grade de programação da Band Rio Interior. Na abertura do programa, ao apresentar o entrevistado, Elias Raffide deu o tom do que uma conversa informal com o jornalista Aurélio Paiva pode se tornar.
“Ele entende de física quântica a história do Tibet. Cita com a maior facilidade frases do Aristóteles filósofo e do Aristóteles Onassis. Futebol, política ou camada de ozônio, com ele o papo sempre rende”, disse o apresentador sobre o convidado da noite. No entanto, como o nome do programa sugere, o foco da entrevista foi mesmo o Sul Fluminense. Em especial, Volta Redonda. O programa será reprisado nesta segunda-feira (26), às 1h15.
A emancipação da cidade
Logo na primeira pergunta, Raffide sacou do bolso talvez o assunto que o jornalista Aurélio Paiva mais domine: Volta Redonda. O apresentador pediu que Aurélio dissertasse sobre o período que antecedeu a emancipação da cidade, então distrito de Barra Mansa.
O jornalista fez uma contextualização histórica rápida sobre o período que foi do Ciclo do Café até a Segunda Grande Guerra, e lembrou da instalação da CSN, bem como suas implicações administrativas para Barra Mansa e o então distrito.
– Ficou uma cidade dividida: uma metade mais pobre e a outra mais rica, que tinha todos os direitos, tinha um hospital fantástico, que era o Hospital da CSN, tinha curso de corte e costura para as mulheres, tinha o Recreio do Trabalhador. Coisas que não existiam em nenhum outro local do Brasil. Nem em São Paulo havia a qualidade de vida que passou a ter aquele pedaço que era Volta Redonda – disse.
Em seguida, Aurélio contou como a Maçonaria teve papel importante no processo de emancipação do município. “Começou a surgir dentro da Maçonaria, na verdade em um churrasco na Loja Independência e Luz, em Volta Redonda, a ideia da emancipação”, disse, citando a liderança de Lucas Evangelista e do então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Alan Cruz.
Mas ressaltou que fundamental foi a chegada de Sávio Cota de Almeida Gama ao grupo. Amigo de personalidades como Roberto Marinho, Getúlio Vargas, Amaral Peixoto, entre outros, foi Sávio quem trouxe poder financeiro e político ao movimento de emancipação.
– O Sávio Gama chega com dinheiro, com muito dinheiro, E compra tudo. Compra vereadores de Barra Mansa para votar a favor da emancipação. Chamava e comprava o vereador. Ele comprou uma cafetina, conhecida como dona Neném, para segurar um vereador e ele não ir votar. Ele chegou com todo poder econômico e político – descreveu Aurélio.
Greve de 88
A greve que eclodiu na CSN em 1988 foi o tema seguinte, com as mortes de três operários e seus desdobramentos políticos. O jornalista ressaltou que acompanhou de perto o movimento grevista, lembrando que havia a eleição municipal como pano de fundo.
“Acompanhei de perto a greve, que tinha dois fatores interessantes. Um era a eleição municipal com o Juarez (Juarez Antunes, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos) candidato. Pesquisas internas mostravam que o adversário dele, Nelson Gonçalves, estava com maiores chances de ganhar, apesar da liderança do Juarez”, contou Aurélio.
O outro era que o país vivia a transição entre o regime militar e o democrático. Com a greve em andamento, o jornalista disse que foi alertado por pessoas que coordenavam a campanha de Juarez de que o sindicato iria radicalizar para cima do Exército.
“Até então, essa radicalização não tinha grande problema, pois era sempre a Companhia do Exército de Barra Mansa, o 22º Batalhão de Infantaria Motorizada, que iria para Volta Redonda. E o coronel já conhecia o Juarez, o Juarez já conhecia o Coronel”, afirmou.
O jornalista explicou que, na verdade, houve radicalização dos dois lados, partindo principalmente de uma ação na Aciaria, onde armadilhas foram montadas com o objetivo de deter as tropas militares. Para não sair desmoralizado da greve, o Exército enviou para a cidade o general José Luís, que não era de Barra Mansa, e que veio com uma tropa de formada por militares de outras cidades.
“Foi ali que a coisa começou a ficar ruim. Tinha uma tropa de choque da polícia agindo nas ruas e as forças do Exército dentro da Usina. Havia uma tragédia anunciada dentro da Aciaria, com as armadilhas. Muitos militares iriam morrer. Tiros começaram a ser disparados, com munição real, pois antes o Exército só usava balas de borracha (…). Três operários morreram nesse confronto e muito mais gente iria morrer, entre operários e militares, se houvesse a invasão da Aciaria”.
Segundo Aurélio, o então prefeito da época, Marino Clinger, e o bispo Dom Waldir Calheiros intercederam nas mais diversas esferas para colocar fim no confronto. O bispo se reuniu com o general e com Juarez e pediu para que a ‘batalha da Aciaria’ não acontecesse. “E ficou acertado que o Exército iria sair. No dia seguinte saíram os operários da Aciaria e foi dessa forma que se evitou uma tragédia ainda maior”.
Como resultado político, Aurélio lembra que o movimento grevista ajudou a eleger não só Juarez Antunes em Volta Redonda, mas também Luiza Erundina, em São Paulo. “Tudo que era contra o governo saiu sendo eleito quase que no país inteiro”, lembrou Aurélio.
A morte de Juarez
O tema seguinte foi igualmente espinhoso para a história regional, com Raffide questionando Aurélio sobre qual a melhor teoria para a morte de Juarez Antunes. Eleito prefeito, o sindicalista governou por apenas 51 dias e morreu em um acidente de carro, indo para Brasília.
Aurélio lembrou que Juarez era deputado federal e tinha de ir a Brasília entregar as chaves de seu apartamento funcional. Como não gostava de avião, foi de carro. Aí o jornalista chama atenção para um detalhe: o motorista de Juarez estava vindo de seguidas outras viagens. “No acidente, o Juarez morreu, o motorista quase não se feriu e vieram muitas teorias da conspiração de que o Juarez teria sido assassinado”, contou o jornalista.
Outra teoria que ficou comum na época, segundo o jornalista, é que Juarez teria fugido para Cuba. Como o corpo ficou com a face desfigurada, começaram a surgir notícias de que o sindicalista estava vivo. “Na verdade, ele morreu mesmo e foi num acidente”, disse Aurélio.
Início do DIÁRIO DO VALE
A terceira pergunta foi sobre o surgimento do DIÁRIO DO VALE. Aurélio afirmou que o jornal foi criado, como no caso da emancipação, na esteira da CSN. Como jornalista, ele afirmou que sempre gostou da área sindical e econômica, chegando a conviver profissionalmente com a maioria dos presidentes da empresa desde a década de 70. “Eu senti que faltava um jornal focado neste tipo de noticiário”, pontuou, lembrando que o público alvo era certeiro: a CSN empregava mais de 30 mil pessoas no início da década de 90, quando o jornal foi fundado.
“O DIÁRIO DO VALE começou focado mesmo neste tipo de noticiário da CSN. Era o jornal em que o empregado da CSN pegava para saber se aquilo que estava no boletim da empresa era verdade mesmo. Ou no boletim do sindicato”, disse.
O diretor-presidente ressaltou que, com o tempo, o jornal e a própria região deixaram de girar somente no entorno da empresa. “Hoje é mesmo um diário de todo o Vale”, completou Raffide.

Bancada: Elias Raffide apresenta programa que divulga personalidades do interior e entrevistou Aurélio Paiva
A primeira edição e os prefeitos
Raffide comentou que a primeira edição foi lançada no dia 5 de outubro de 1992, exatamente um dia depois das eleições municipais que elegeram Paulo Baltazar prefeito de Volta Redonda. Ele pediu que Aurélio falasse sobre as características de cada um dos prefeitos que assumiram desde então. “Nós optamos por lançar o jornal um dia depois das eleições, justamente para não dizerem que o jornal apoiou este ou aquele candidato”, explicou Aurélio.
O jornalista destacou a capacidade de comunicação de Baltazar. “Lembra muito o Juarez sobre a capacidade de comunicação. Baltazar num comício não era fácil”. E lembrou que ele ajudou a eleger o sucessor. “Pegou para fazer sucessor o Neto, que tinha vários anos de mandatos de deputado estadual. Ele apoiou o Neto”.
Sobre Neto, Aurélio pontuou: “Não é o que podemos chamar de grande orador e era centralizador. A gente até hoje não consegue entender como as coisas davam certo com o Neto. Você tem três maneiras de administrar: o jeito certo, o jeito errado e o jeito do Neto”, disse.
Aurélio lembrou que Gotardo Netto assumiu o mandato após uma disputa acirrada com Paulo Baltazar. “A característica dele é que era cirúrgico, até pelo fato de ser médico. Poucos médicos no Estado fizeram o tanto de cirurgias que o Gotardo fez. Também não tinha a capacidade oratória do Baltazar, mas tinha uma relação de amizade com as pessoas da cidade e um grande apoio das mulheres”.
Sobre o atual prefeito, Aurélio disparou: ‘O Samuca ganhou encarnando o espírito de uma época, um momento brasileiro”. Questionado se esperava a vitória de Samuca, Aurélio revelou uma conversa entre os dois, ainda no primeiro turno das eleições. “Eu disse a ele que ele tinha chances, principalmente pelo espírito daquela eleição”, revelou.
De acordo com Aurélio, Samuca soube muito bem encarnar a expectativa que o pleito despertou na população, mas lembrou que ele chegou também com a bagagem de quem já conhece o serviço público.
Previsões para o futuro
Elias Raffide pediu ainda que Aurélio fizesse algumas previsões sobre o futuro político do país e da região.
Lula: “Há uma jurisprudência muito frágil na questão sobre a prisão em segunda instância (…). Mas acho um pouco difícil dele ser candidato. Acho difícil até mesmo do PT correr o risco dele ser candidato. Uma previsão certeira: O próximo presidente vai demitir dois mil cargos de confiança no próximo governo e contratar outras duas mil pessoas para o lugar”.
Escândalos: “Posso garantir que eles vão continuar acontecendo”.
Congresso: “A maioria vai se reeleger. Esse espírito de mudança não encarna no Legislativo”.
Economia: “Brasil respira por aparelhos. Governo gasta mais do que recebe. Vejo com otimismo a possibilidade de sair do fundo do poço, mas não de sair do poço”,
18 comments
Pafunciio,em momento algum eu disse que tinha que filtrar divergências,pois isso faz parte da democracia
Eu disse que deveria filtrar comentário pejorativos e ofensivos.Acho que esses tipos de comentários não é legal.
Tem pessoas que confundem democracia como uma carta branca pra se manifestar da forma que quiser e não é por a.É assim que penso mas respeito quem pensa diferente.
Um abraço e uma excelente noite pra ti.
Nessa linha, até concordo c você.
Peguei só o final da entrevista. O vídeo está disponível em algum site? Tenho certeza que na Band, com seu padrão técnico sofrível, não está…
O vídeo está disponível na página do Diário do Vale no Facebook.
Parabéns!Raffid,imagina Aurélio e Dicler Simões juntos nesta entrevista.muita informação pessoas que ama dar noticias.saudades do Dicler.
Que cena triste!
Em qual momento vc chorou?…
Nas chamadas, o apresentador relacionou vários assuntos e com isso passou a ideia de que os mesmos seriam abordados na entrevista, contudo tais assuntos não foram desenvolvidos. Ou seja, propaganda enganosa. Isso foi uma grave falha da produção…
Concordo plenamente cpm as previsões do Aurélio no fim da matéria!!!
Conheci o Aurélio conversando com o porteiro do prédio onde mora e vi alí uma pessoa bonicima muito educado sabia q seria esse cidadão inteligente e intelectual.sabe das coisas e acima de tudo um voltaredondense nato parabéns
BoniCima ?
Corrigindo : Acho que o jornal poderia fazer algum tipo de filtragem.
Eu gosto muito do jornal diário do vale,é uma fonte muito importante de informação de toda região sul fluminense mas tenho algumas uma críticas em relação a comentários em certas notícias,
Acho que o jornal fazer fazer algum tipo de filtragem em certos comentário,são tantos comentários ofensivos
a essa ou aquela cidade que acho muito chato isso,são comentários pejorativos de moradores dessa ou daquela cidade.Tirando isso o jornal é perfeito. Parabéns ao Aurélio pelo show de conhecimento que nos proporciona sempre !
Então tá. Só deve publicar comentários q agrade uma parcela da população, o resto tem q ser abafado ? Tudo bem, comentários c palavras de baixo calão, tbm não concordo, agora opiniões divergentes…….
O nosso presente é mais preocupante e requer maiores ações do que lembrar fatos relatados em qualquer livro de história. Sem querer subestimar a capacidade do entrevistado.
Kkkkk chorei…
Pois fique o senhor sabendo q, país q não tem passado, não conhece o presente nem tampouco terá futuro………….
Aurélio Paiva!!!! Verdadeira aula de história, quanto mais leio suas matérias, mais encantada fico com tamanha riqueza de cultura nossa região Guarda. Meus parabéns sempre a esse grande jornalista.
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