Eunice Paiva receberá Medalha Tiradentes post mortem

Drama de advogada foi tema do filme ganhador do Oscar 2025, ‘Ainda Estou Aqui’

by Lívia Nascimento

Eunice Paiva e o marido, o deputado federal Rubens Paiva, na década de 1960 – Foto: Arquivo Pessoal

Estado do Rio – A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) anunciou nesta quinta-feira (13) que vai condecorar a advogada e ativista social Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva com a Medalha Tiradentes post mortem, maior honraria concedida pelo Parlamento fluminense. A homenagem consta no Projeto de Resolução 1.170/25, de autoria original da deputada Dani Monteiro (PSol), que foi aprovado em discussão única. A medida será promulgada pelo presidente da Casa, deputado Rodrigo Bacellar (União), e publicada no Diário Oficial do Legislativo nos próximos dias.

Símbolo da luta pela democracia no Brasil, Eunice Paiva teve papel fundamental na busca por informações sobre o paradeiro de seu marido, o deputado Rubens Paiva, desaparecido político após ser preso, torturado e assassinado pela Ditadura Militar (1964-1985). Viúva, formou-se em Direito, tornou-se advogada e se engajou em causas sociais e políticas, destacando-se como militante dos direitos humanos e defensora dos povos indígenas.

A trajetória de Eunice foi retratada no filme ‘Ainda Estou Aqui’, aclamado pela crítica e vencedor do Oscar 2025 na categoria de Melhor Filme Internacional, além de ter sido indicado nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz para Fernanda Torres, que interpreta Eunice Paiva.

Comoção dos deputados

Autora original da medida, a deputada Dani Monteiro afirmou que a homenagem é o mínimo que a Alerj poderia fazer em reconhecimento à luta de Eunice. “Ela foi uma mulher, lutadora, mãe, esposa e, infelizmente, viúva. A ditadura deixou marcas em diversas famílias, como a de Eunice. Do luto nasce a luta. Uma mulher que usou todos os anos restantes da sua vida para lutar por memória e justiça. Eunice foi uma grande defensora dos povos originários de nosso país. A homenagem não é apenas pelo luto de uma família, mas pela luta do povo brasileiro e pela dignidade”, declarou a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj.

Ao final de seu discurso, Dani Monteiro também abriu coautoria a todos os deputados que quisessem e se referiu especificamente a dois decanos do Parlamento, os deputados Carlos Minc (PSB) e Luiz Paulo (PSD). Os dois atuaram como líderes contra a Ditadura Militar: “Nossos decanos representam em nossa Casa, vivos e empossados, a luta pela democracia”, concluiu a deputada.

Emocionado, Minc ressaltou que a luta contra a ditadura precisa ser sempre lembrada. “Eu conheci alguns personagens do filme ‘Ainda Estou Aqui’. Tive a infelicidade de conhecer os cárceres da ditadura. Pessoas que negam isso precisam ter conhecimento do que aconteceu. Trago no corpo as marcas da tortura, não tenho ressentimento e nem guardo ódio, mas é preciso sempre lembrar”, frisou o parlamentar.

Luiz Paulo também lembrou desse período. “Em 1966, eu era estudante de engenharia. Muitos que se indignaram contra a ditadura sumiram e os corpos jamais apareceram, foram brutalmente assassinados. A senhora Eunice Paiva é uma heroína, que junto à sua família resistiu aos tenebrosos tempos da ditadura. Esse tema é absolutamente relevante para mostrar à sociedade brasileira o valor da democracia. Ditadura nunca mais”.

O deputado federal Rubens Paiva, assassinado pelo Estado brasileiro – Foto: Reprodução

Quem foi Rubens Paiva?

Rubens Paiva (1934-1971) foi um deputado federal e militante político brasileiro, conhecido por sua luta contra a Ditadura Militar que se instaurou no Brasil em 1964. Nascido no Rio de Janeiro, Paiva era engenheiro e iniciou sua carreira política como membro da Aliança Democrática, sendo eleito deputado federal em 1962. Com a instauração do regime militar, ele passou a se opor à repressão, sendo um dos principais críticos do governo autoritário.

Em 1971, foi preso por militares durante uma operação de combate à oposição política. Após ser torturado e assassinado, seu corpo nunca foi encontrado, tornando-se um dos símbolos das violações de direitos humanos da ditadura. Sua esposa, Maria Lucrécia Eunice Paiva, lutou incansavelmente por justiça, buscando informações sobre o desaparecimento do marido e, mais tarde, engajando-se em causas sociais e políticas, em defesa da democracia e dos direitos humanos. O caso de Rubens Paiva é um dos mais emblemáticos das dezenas de desaparecimentos forçados ocorridos durante esse período.

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