Legado de Marielle: assessoras são eleitas para Assembleia do Rio

Por Diário do Vale

Dani Monteiro e Renata Souza, deputadas estaduais negras eleitas pelo PSOL, para mandatos Alerj, após o assassinato da vereadora do partido Marielle Franco, em março de 2018 – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Há quase sete meses, “Marielle vive” se tornou palavra de ordem pelas ruas do Rio de Janeiro. Agora, a palavra também ganha o Parlamento estadual. Vindas de comunidades da periferia da zona norte da capital fluminense, três assessoras diretas da vereadora, assassinada em março, assumirão em 2019 mandatos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Eleitas no último domingo (7), Renata Souza, Dani Monteiro e Mônica Francisco farão parte da bancada do PSOL e prometem dar prosseguimento ao trabalho de defesa dos direitos humanos.

Se Marielle não tivesse sido executada, talvez nenhuma das três teria se candidatado. Elas contam que já tinham pensado em se candidatar no futuro, mas o projeto foi antecipado com a morte de Marielle Franco. “Era uma coisa pensada talvez para o horizonte de 2020, com uma construção gradual, como tem que ser. A execução da Marielle precipita esse processo”, conta Mônica Franciso.

Segundo Renata Souza, Marielle sempre trabalhou para que outras mulheres negras ocupassem mandatos no Legislativo. “Nossa resposta [ao crime] não foi recuar. Fomos ousadas e desafiamos o pragmatismo político, que diz que só pode vir no máximo uma mulher negra por vez. E nós dissemos não, dessa vez vão três. E trabalhamos para que todas três fossem eleitas”, diz a candidata mais votada da bancada do PSOL, com 63.937 votos.

As eleitas prometem mandatos com foco em medidas que contribuam para superar as desigualdades sociais e promover políticas públicas em comunidades da periferia. “A favela é historicamente o lugar da política pública ineficaz, precária, descontinuada. A militante do movimento de favela luta pelo direito à água, pelo saneamento, pela habitação, pela saúde, pela educação. São os problemas que queremos enfrentar”, diz Mônica Francisco, que obteve 40.631 votos.

Renata Souza destaca que o deputado não trabalha só para aprovar leis. Segundo ela, é essencial fiscalizar o Executivo e o cumprimento da legislação e, nesse sentido, se diz disposta a acompanhar a atuação das forças de segurança na periferia. Um dos objetivos é o fim das operações policiais perto de escolas em horários de entrada e saída de estudantes. Renata defende protocolos de ação que determinem, por exemplo, locais onde não devem ocorrer confrontos e que estabeleçam a garantia de ajuda humanitária.

“Nós não temos formas de fazer com que a população possa se refugiar em um lugar seguro. Alunos ficaram 20 dias sem aula no Complexo da Maré. Se isso se repete ao longo dos 12 anos, que é o tempo que o estudante leva até concluir o ensino médio, ele terá perdido um ano de aulas. E isso é gravíssimo. É o Estado impedindo que esse aluno chegue na escola”, lamenta.

Na visão de Dani Monteiro, que conquistou 27.982 votos, as candidaturas também devem contribuir para uma revisão do passado do país, de forma a perceber a necessidade de reparação, já que “a abolição da escravatura não constituiu direitos e não houve inclusão das pessoas que até então as via como inferiores”.

Para levar adiante as propostas, as três precisarão lidar com parlamentares com pensamentos bem diferentes. O PSL, partido do presidenciável Jair Bolsonaro, conquistou a maior bancada e terá 13 deputados estaduais a partir do próximo ano. O mais votado deles é Rodrigo Amorim, que provocou polêmica ao posar para uma foto em Petrópolis (RJ) destruindo uma homenagem à vereadora Marielle Franco.

Com 36 anos, Renata Souza é jornalista, pesquisadora em comunicação e militarização e professora de pré-vestibular comunitário no Complexo da Maré. Já Mônica Francisco, nascida há 48 anos no Morro do Borel, é socióloga e pastora evangélica. Moradora do bairro de Higienópolis, Dani Monteiro é a mais nova do trio. Aos 27 anos, ela é estudante cotista de ciências sociais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e  carrega em sua história a conquista de ter integrado a primeira geração de sua família a chegar à universidade.

“O que nós queremos vai além de promover espaços de resistência. É proporcionar a formação para que essas mulheres negras possam se tornar especialistas. E daí poder vê-las debatendo saúde, debatendo educação, debatendo segurança pública.”, diz Dani Monteiro, que conquistou 27.982 votos.

Para Mônica Francisco, a eleição delas também se colocou como necessidade diante do atual cenário, quando “o Brasil revela sua incapacidade para passar sua história a limpo, permitindo assim uma instabilidade democrática”. “Como a história é cíclica, nós podemos viver situações que nós achamos que não viveríamos mais. E isso tem a ver com o fato de que nós não conseguimos falar abertamente sobre a ditadura militar. Chegamos em 2018, com 130 anos de uma abolição da escravatura inconclusa, em que a gente não discute o racismo que cimentou as relações sociais no país”.

As serão responsáveis por fazer com que a Alerj tenha a maior quantidade de mulheres negras de sua história. Serão seis, enquanto atualmente há apenas duas. Ao mesmo tempo, o trio contribuirá para ampliar no próximo ano a representação feminina de uma forma geral – que saltará de oito parlamentares para 11 – e também a representação negra – que sai de 12 para 22. A casa legislativa tem ao todo 70 deputados estaduais.

* As informações são da Agência Brasil, por Léo Rodrigues com colaboração de Akemi Nitahara

 

VOCÊ PODE GOSTAR

22 Comentários

Vieira 15 de outubro de 2018, 16:21h - 16:21

Não chego a dizer que Deputado Estadual seja um cargo desnecessário,mas não precisa dessa quantidade. O mesmo para Deputado Federal e Senador. Esses cargos viraram BOCA. Além dos salários altos, mordomias e roubalheiras, com REMOTAS exceções. Pela REDUÇÃO já.

Eleitor 15 de outubro de 2018, 15:07h - 15:07

Depois não reclamem que o Rio está uma m….

Smilodon Tacinus 15 de outubro de 2018, 17:15h - 17:15

Já está pré-julgando? Seria PRÉconceito?…

todocoxinhaamaaCrisBrasil 15 de outubro de 2018, 11:48h - 11:48

Parabéns e força às três eleitas. Vitimização foi o que fez o candidato Boçalnaro após levar a “santa facada”. ( ” santa” para ele, porque , infelizmente, apesar de ter sido uma agressão à democracia, um ato reprovável, por outro lado, também o levou a ganhar muitos votos, principalmente dos coxinhas, viúvas do Aecinho Neves, que teve 51 milhões de votos, mas ninguém votou nele.

Carlos Augusto 15 de outubro de 2018, 16:04h - 16:04

VC é doente? vitimização quem faz é quem vc defende. Marielle??????????? advinha por que ela conseguia fazer campanha em determinadas favelas do rio????? Só para conhecimento seu, que pelo jeito é zero, no rio de janeiro, vc só consegue fazer campanha nos morro com autorização dos chefes do trafico local. Para bom entendedor……………..

Dee Snider 17 de outubro de 2018, 10:19h - 10:19

Carlos Augusto

Trabalhei na área social da capital por quase 2 décadas e afirmo categoricamente que você não tem a menor idéia do que está falando, ou é mal intencionado

Deve ser outro tiozão que se informa pelos grupos de ‘ UATIZAP ‘

Carlos Augusto 15 de outubro de 2018, 08:55h - 08:55

Tá explicado porque o estado do rio de janeiro se tornou o que é hoje. Lamentável.

Ergest Traveller 15 de outubro de 2018, 13:50h - 13:50

Nao gosta de democracia, nenemzinho ?

Vai ali pra Venezuela ( e nao volte )

CIDADÂO KANE 15 de outubro de 2018, 02:42h - 02:42

Show !!! Vida longa ao PSOL, ÚNICO PARTIDO QUE NÃO TEM PARLAMENTARES ENVOLVIDOS EM DENUNCIAS DE CORRUPÇÃO E SUBMISSÃO AOS PODEROSOS.

guto 15 de outubro de 2018, 11:07h - 11:07

Como vai estar envolvido em corrupção se nunca vai “tomar o poder?!”
Como diria o nordestino Mão Santa: “A ignorância é audaciosa!”…

Trump 14 de outubro de 2018, 23:18h - 23:18

Legado, isso é maldição.

Copolla 17 de outubro de 2018, 10:20h - 10:20

Maldição é sua presença nesse planeta
Peso morto de merda

José Carlos 14 de outubro de 2018, 21:27h - 21:27

Legado de Marielle. Uma pessoa que sequer recebia votos do local onde morava. O estagiário lacrador do DV tá sertissimo!

Copolla 15 de outubro de 2018, 13:49h - 13:49

Assim que eu gosto… ovelha que segue o fluxo apoiando o inominável

Depois da primeira cacetada de lampada fluorescente na cabeça por ser latino, vai aprender

FERNANDO 14 de outubro de 2018, 18:28h - 18:28

ACHEI INTERESSANTE A COLOCAÇÃO DO “”NA LATA”” PRA QUE SERVE O DEPUTADO ESTADUAL?????? SINCERAMENTE NUNCA VI FALAR QUE UM DEPUTADO ESTADUAL TROUXE RECURSO PRA TAL CIDADE OU REGIÃO,,,PRA DECEPÇÃO DOS ELEITORES O QUE TEM ACONTECIDO É ISSO QUE ACABAMOS DE ASSISTIR A MESES ATRÁS,,,ME PERDOE SE FOR IGNORANCIA MINHA,, MAS É UM CARGO SEM SENTIDO NENHUM QUE A NOSSA CONSTITUIÇÃO TINHA QUE REVER!!!!! COM RESPEITO A VEREADORA É MAIS UM CRIME CONTRA A VIDA E MAIS UMA VITIMA DA VIOLENCIA QUE ESTACIONOU NO NOSSO QUERIDO RIO DE JANEIRO E DEMAIS LUGARES ,ACABAMOS E ESTAMOS ELEGENDO PESSOAS COMPROMETIDA COM A SOCIEDADE,,,A VIOLENCIA NAO ACABA MAS TEM QUE DIMINUIR E MUITO ESSA É A NOSSA ESPERANÇA !!!!!!!!

Smilodon Tacinus 15 de outubro de 2018, 07:22h - 07:22

É preciso desconhecer a organização político-administrativa do país para afirmar que o cargo de deputado estadual é desnecessário. Ele seria desnecessário se não houvesse estado como ente federativo, assim como vereador seria desnecessário se não houvesse município… Pra isso existem os três poderes, mas se quiser acabar com o judiciário também podemos instaurar a ditadura ou o absolutismo no Brasil…

Em tempo: o legislativo é, primariamente, uma casa de REPRESENTAÇÃO, daí ser plúrima, diferente do executivo, onde há apenas um ocupante. O vereador ou deputado são eleitos para representar não obrigatoriamente todo o povo, mas uma PARTE dele (bairro, cidade, região, classe social, laboral, estudantil, religiosa ou étnica, etc.)… Essas deputadas foram eleitas para REPRESENTAR, elaborar leis e fiscalizar o governador, e isso demonstra uma maior consciência do eleitor. Prefeito, governador e presidente não representam, eles GOVERNAM, fazem, executam…

Mora 14 de outubro de 2018, 16:44h - 16:44

Psol vergonha nacional . direitos desumano . pq direitos humano so funciina para o bandido. Chega de vitimismo usando a cor da pele . todos nos somos iguais

foquinha 15 de outubro de 2018, 00:33h - 00:33

Certamente voce nunca acompanhou a politica no RJ. Quem batalha contra o Crivella que usa a prefeitura para beneficiar sua igreja é o PSOL. Quem mais lutou como uma formiga contra o PMDB e dos desmandos o Picianni, Cabral, Alberassi foi o PSOL. O PSOL é um partido que tem ideologia, pessoas integras e que não acoberta membros corruptos. Uma coisa é divergir sobre certos conceitos do partido mas no geral eles defendem a moralidade e a democracia.

guto 15 de outubro de 2018, 11:11h - 11:11

Quem mais apoiou o PT nos treze anos de corrupção foi o PSOL, além do mais o PT tinha como fiéis escudeiros o Picianni, Cabral, Alberassi que participaram do roubo petista!
Como diria o jornalista Boris Casoy: “Isso é uma vergonha!”…

Copolla 17 de outubro de 2018, 10:21h - 10:21

Mora deve ser aquela menina loira de olhos claros que diz na baladinha topzeira : Ainnn gente esse negócio de racismo não existe, eu mesma nunca sofri isso na vida.

CABRA 14 de outubro de 2018, 15:42h - 15:42

EU JAMAIS USARIA MINHA COR PRA OBTER VANTAGENS, MAS SIM USARIA MEU CARATER E ESTUDO

Na lata 14 de outubro de 2018, 12:26h - 12:26

Infelizmente deputado estadual, de qualquer capital, nada fazem, não têm poder de mudança través das leis, apenas fazem o papel fiscalizatório, sequer deveria existir deputados estaduais, é apenas um cabide de emprego, pois a lei maior é a constituição e somente quem têm poder de mudá-la são os deputados federais com os senadores, apenas eles, qualquer lei menor que viole a constituição não têm validade, agora resta saber o que é defender os direitos humanos, pois o que foi tirado dessa vereadora foi justamente o direito a vida, previsto nos direitos humanos o que leva a crer que para defender algo é necessário abrir mão de outro, os direitos humanos acabam na prática defendendo os assassinos e punindo as pessoas de bem, o que gera uma constatada contradição, uma vez que os meios de punição não são compatíveis com a proteção desses mesmo direitos a quem é de bem. O certo é não se matar e não se expor tanto por algo que têm pouca ou nenhuma representatividade e sim buscar os cargos políticos que realmente promovem mudanças.

Comments are closed.

diário do vale

Rua Simão da Cunha Gago, n° 145
Edifício Maximum – Salas 713 e 714
Aterrado – Volta Redonda – RJ

 (24) 3212-1812 – Atendimento

(24) 99926-5051 – Jornalismo

(24) 99234-8846 – Comercial

(24) 99234-8846 – Assinaturas
.

Image partner – depositphotos

Canal diário do vale

colunas

© 2024 – DIARIO DO VALE. Todos os direitos reservados à Empresa Jornalística Vale do Aço Ltda. –  Jornal fundado em 5 de outubro de 1992 | Site: desde 1996