Sul Fluminense – Os números assustam, e assusta ainda mais saber que os casos são subnotificados: de acordo com o Instituto de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro (ISP), em 2023 houve aproximadamente 9 mil casos de violência sexual contra crianças e adolescentes registrados. Desses, pelo menos 243 aconteceram em cidades do Sul Fluminense (veja tabela abaixo).
De acordo com o ISP, dos 8.836 relatos de abuso sexual documentados ano passado, 3.540 foram de crianças com até 13 anos, evidenciando um cenário em que 40% das vítimas eram menores.
“Entendemos que a violência sexual contra crianças e adolescentes é uma das formas de violência mais veladas, o que dificulta a sua identificação. Neste sentido a Fundação para Infância e Adolescência vem intensificando seus trabalhos estratégicos para ampliar os trabalhos de prevenção junto às famílias, além de promover ações de sensibilização, mobilização e informação sobre o tema”, afirma Fernanda Lessa, presidente da Fundação para a Infância e Adolescência (FIA-RJ).
Em Volta Redonda, uma caminhada na Vila Santa Cecília, nesta sexta-feira (17), marcou mais uma ação do Maio Laranja, mês de combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. O deputado estadual Munir Neto, que é presidente da Comissão de Assuntos da Criança, do Adolescente e da Pessoa Idosa da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), participou do evento ao lado de representantes da prefeitura municipal e de instituições de proteção à infância. O objetivo: conscientizar a população contra os abusos e exploração de crianças e adolescentes.
Para Munir, a conscientização é indispensável, visto que no estado do Rio há uma média de aproximadamente 10 mil crianças e adolescentes vítimas de abusos – por dia.
“Só com a união entre o poder público e a sociedade civil vamos conseguir combater esses crimes. Em 2023, quase nove mil denúncias chegaram às delegacias e ao Disque 100. Dessas, em torno de 3,5 mil foram crianças de até 13 anos que sofreram abusos. Há ainda os casos que não chegaram às autoridades por falta de denúncia, então nós estamos pedindo que as pessoas informem às autoridades pelo Disque 100 ou através do canal de atendimento da nossa comissão na Alerj”, disse o deputado.
A secretária municipal de Assistência Social, Rosane Marques, a ‘Branca’, reforçou a importância da data. “A exploração sexual de crianças e adolescentes é uma realidade alarmante em muitas partes do mundo, sendo uma violação flagrante dos direitos humanos mais fundamentais. Estima-se que muitos meninos e meninas são vítimas desse abuso todos os anos, sofrendo danos físicos, emocionais e psicológicos profundos que podem assombrá-los pelo resto de suas vidas”, afirmou.
Conscientização, não comemoração
A presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), Paloma de Lavor Lopes, destacou a importância da campanha para a conscientização coletiva. “Uma caminhada como essa, com todos com balões simbolizando o Maio Laranja, a flor representado uma criança e sua fragilidade, faz a diferença para conscientizar a população de que é um dia de luta e não de comemoração.”
“É preciso que haja um entendimento da população sobre a necessidade de se denunciar toda e qualquer suspeita de violência contra crianças e adolescentes. Nosso Projeto Curumim traz hoje 80 crianças em um trabalho de extrema importância para a prevenção, que é fundamental nesse processo”, afirmou Isabela da Cruz Santos Marques Chaves, assistente social e coordenadora técnica da Casa da Criança e do Adolescente (CCA).
VÍTIMAS DE ESTUPRO EM CIDADES DO SUL FLUMINENSE / 2023
(crianças e adolescentes de zero a 17 anos)
Resende – 15
Barra Mansa – 21
Volta Redonda – 40
Barra do Piraí – 32
Itatiaia – 16
Mangaratiba – 18
Angra dos Reis – 51
Pinheiral – 06
Piraí – 22
Porto Real – 01
Quatis – 05
Valença –16
Um crime há 51 anos impune: a origem do 18 de Maio
Em 18 de maio de 1973, a menina Araceli Crespo, de apenas oito anos de idade, saiu de casa e nunca mais foi vista com vida. Seu corpo foi encontrado dias depois, desfigurado e em estado de decomposição, em um matagal na cidade de Vitória, no Espírito Santo.
Araceli foi sequestrada, drogada, estuprada e morta por jovens de classe média da cidade. Dois deles foram julgados e condenados pelo crime, mas conseguiram a anulação da sentença e, em seguida, a absolvição.
O crime continua impune, 51 anos depois. Em 2000, o Congresso Nacional instituiu o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes na data da morte de Araceli.