Mestríssimo ‘Pedro D’Água Limpa’ é homenageado em evento de capoeira

by Diário do Vale
Mestríssimo na Redação do DIÁRIO DO VALE autografando um dos livros que escreveu - Foto: Franciele Bueno
Pedro é ativista da igualdade racial, historiador, escritor, e jongueiro - Foto: Reprodução Rede social

O mestríssimo Pedro D’Água Limpa, de 69 anos, será um dos homenageados no evento “Mestre e Roda de Capoeira Patrimônios Culturais”, que ocorrerá neste sábado (30), das 10h às 15h, no Rio Zoo, em São Cristóvão, na capital carioca. O evento foi criado para homenagear os grandes nomes da capoeira que contribuíram para a história e o desenvolvimento da resistência negra. Também na ocasião serão reempossados os membros do Conselho de Mestre no âmbito do Estado do Rio de Janeiro.
Pedro Antônio Francisco, o mestríssimo, ingressou na capoeira em janeiro de 1973, com o Mestre Henrique, quando então tinha 21 anos com o Mestre Henrique. Com apenas três meses de prática na arte marcial que envolve dança e música, Pedro passou a dar aula em roda de capoeira em um espaço improvisado num centro de umbanda, na Água Limpa.
– Meu mestre percebeu que tinha tendência para dar aula e me incentivou a ter um espaço. O Centro de Umbanda Nossa Senhora da Guia me abriu as portas para começar as primeiras aulas – disse.
Pedro D’Água Limpa também deu aulas no bairro Vila Rica/Três Poços. Segundo o mestríssimo, ao longo dos anos aproximadamente cinco mil alunos participaram de suas aulas. Ele comentou ainda que atuou como mestre de capoeira durante 23 anos e explicou que o título de mestríssimo é devido ter graduado dois mestres de capoeira no ano 2000. Desde então, há 18 anos, se tornou mestríssimo.
– Mestríssimo ou mestrão, na capoeira, é um cargo equivalente a sensei nas artes marciais chinesas e japonesas – falou, acrescentando que o título mestríssimo também foi adotado como codinome de escritor.
Ele fez questão de destacar os benefícios da capoeira para a saúde e frisou que ainda há preconceito com a prática que marca a identidade dos escravos africanos no Brasil.
– É bom para saúde, é bom para tudo, é um lazer, é uma brincadeira. A jinga da capoeira é melhor do que a natação, além disso, é um ótimo convívio para fazer amizades nas rodas. Capoeira é uma arte marcial disfarçada porque naquele momento histórico tinha que ser assim porque se não fosse, não estaria aqui hoje. Ainda há um resquício de preconceito por parte de religiosos evangélicos de diversas denominações por pensarem que o atabaque é macumba – disse.
Pedro D’Água Limpa destacou que recebe em Volta Redonda apoio do vereador Carlinhos Santana que criou o Dia da Capoeira no município celebrado em 3 de agosto. Mestríssimo comentou ainda que a capoeira está presente em 140 países faltando pouquíssimo para a prática esportiva entrar nas Olimpíadas.
– No Brasil a capoeira foi proibida por muitos anos, mas em 1930 mestre Bimba fez uma apresentação da luta para o então presidente Getúlio Vargas, que liberou a prática e a transformou em esporte nacional brasileiro, que também está presente em mais de cem países do mundo – falou.

Ativismo

Além de mestríssimo em capoeira, Pedro é ativista da igualdade racial, historiador, escritor, e jongueiro. Aos 13 anos, tornou-se membro da AVE (Associação Volta-redondense de Estudantes) Braço da UNE (União Nacional de Estudantes), iniciando-se no ativismo. Aos 14 anos, membro fundador do Clube Palmares (VR), primeira entidade negra regional a lutar pela Igualdade Racial.
– Negros não podiam ser sócios em clubes em Volta Redonda, por isso, foi criado a fundação do Clube Palmares, que passou a acolher negros e negras e instruí-los na sociedade – comentou.
A partir dos 15 anos começou sua participação ativa nos movimentos populares; Movimento pela Igualdade Racial; Movimento Crianças e adolescentes; movimento da Associação de Moradores (inclusive criador do CONAM). Dos 23 aos 40 anos, iniciou-se na Capoeira, participou da fundação da AGDAL, foi operário na CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e na Monlevad. Década de 80, foi criador, fundador e carnavalesco do Bloco Afro Palmares / VR, criador fundador do CENIERJ (Conselho de Entidades Negras do Estado do Rio de Janeiro). Dos 30 aos 40 anos, foi técnico de indústria na área de tecnologia mecânica da CSN. Teve participação ativa em fóruns, congressos, associações.
No final da Década de 80, concorreu a vereador por Volta Redonda e saiu a CSN. É palestrante, (capoeira, jongo, questões da igualdade racial), artista plástico e escritor autodidata. Mestríssimo de Capoeira, Bastões, Maculelês e Danças Guerreiras. Ativista e articulista de Movimentos Sociais (Igualdade Racial, Crianças) Fundador da Central Única de Movimentos Populares.
Historiador e escritor de questões negras. Pesquisador de coração e afeto, ao grupo de Jongo de Pinheiral. Em abril de 2017 foi aceito como grebalista no Grêmio Barramansense de letras.

Vestimenta nas ruas

Você já deve ter visto o mestríssimo nas ruas de Volta Redonda, ele se veste com mantos africanos e cocar indígena. Mestríssimo disse que as roupas não são fantasias, são manifestações visuais e corporais, além de todo o conteúdo textual produzido por ele como ativista.
– Tenho 18 ternos personalizados minha meta é ter 30. Tenho também uma capa vermelha e um capacete de espartano, que assusta, mas também atrai as pessoas. Espartano é um personagem que escrevo e as pessoas nas ruas confundem com gladiador, eu explico a diferença. Gladiador é um escravo de Roma, um soldado que foi vencido, um espartano é um soldado livre de Esparta – disse, acrescentando que está escrevendo um texto sobre a diferença de ambos para publicar.
Pedro D’Água Limpa quando visitou a redação do DIÁRIO DO VALE e estava vestido de mestríssimo com um terno branco personalizado com referências da capoeira. Pedro é uma figura folclórica no município tendo uma participação cultural marcante em diversas áreas. Ele se define como “um bom e fraterno amigo, fácil de conquistar, difícil de perder”, finalizou o mestríssimo.

Por Franciele Bueno 

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3 comments

Morador VR 30 de março de 2019, 13:51h - 13:51

Parabéns Pedrão!

Pedro ANTÔNIO FRANCISCO 2 de abril de 2019, 08:29h - 08:29

Bom.di: Sr. Morador de Volta Redonda e Sr . PROFESSOR Valmir de Almeida( Grandíssimóveis Ativista TOTAL e Paí de uminha Jovem Advogado Promissor e.CENTRADO.que e sobrinho de um de meus Alunos (Discipulos) de Capoeira , estou me referindo ao grande e prestativo PEDREIRO TUBÃO.

Obrigado pelos comentários e reconhecimento
AXÉ ZUMBI e DANDARA. Fiquem com.Deus.
ASS
MESTRÍSSIMO PEDRO D’ÁGUA LIMPA

Valmir de Ameida 30 de março de 2019, 12:13h - 12:13

Justíssima homenagem. Resgate histórico.

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