Depois de dez anos de atrasos, problemas e estouros do orçamento, o super telescópio espacial James Webb foi lançado com sucesso, no dia 25 de dezembro, do espaçoporto de Kourou, na Guiana Francesa. O foguete Ariane 5 decolou pontualmente as 9h20 da manhã de sábado e logo desapareceu no céu nublado. Mas as estações de rastreio, em Natal no Brasil e em Ascenção no meio do Atlântico, informaram que tudo ia bem. Logo a câmera de TV instalada no segundo estágio do Ariane transmitia imagens do telescópio se separando do foguete a uma altitude de 200 quilômetros acima da Terra.
“Agora temos um Natal de verdade” disse o vice-diretor da Nasa Thomas Zurbuchen quando os instrumentos confirmaram que o telescópio de 10 bilhões de dólares estava em sua trajetória rumo ao ponto de Lagrange, a 1,5 milhão de quilômetros da Terra. Originalmente o James Webb devia ter decolado em 2018, mas enfrentou uma série de problemas durante os testes. Foi ligado na tomada errada, um dos painéis que devem protege-lo da luz do Sol se rasgou durante um teste. E finalmente uma braçadeira se soltou quando o engenho ia ser colocado na ponta do foguete. O lançamento foi adiado para 2020 e depois para outubro de 2022. E finalmente aconteceu agora, no sábado de Natal.
Mas o suspense ainda não terminou. Para se encaixado no cone do foguete Ariane, o James Webb teve que ser todo dobrado, como um origami. E ao longo desta semana ele terá que sobreviver a complexa manobra de desdobramento. “É a coisa mais complicada que já fizemos até agora” disse o cientista Jonathan Gardner, do Centro Espacial Goddard. “É o maior projeto de ciência pura que os Estados Unidos já fizeram”.
Um dos objetivos do telescópio é observar a formação das primeiras estrelas e galáxias, logo depois da formação do Universo, no Big Bang. Ao observar as profundezas do espaço ele vai olhar também nas profundezas do tempo. Porque a luz dessas estrelas e galáxias levou bilhões de anos para viajar até a Terra e os espelhos do telescópio. O problema é que nesta longa viagem os fótons, as partículas de luz, foram desviados para o infravermelho, que é o comprimento de onda da luz que fica além da cor vermelha.
Para captar essas imagens no infravermelho o telescópio precisa ser resfriado a uma temperatura de 220 graus abaixo de zero. E ficar na sombra. A sombra é fornecida por uma enorme sombrinha de três camadas que vai começar a se desdobrar nesta terça-feira. A abertura desse guarda-chuva triangular depende do funcionamento preciso de 140 mecanismos de liberação, 70 dobradiças, 400 polias 90 cabos e oito motores elétricos. E tudo terá que ser feito por controle remoto, enquanto o telescópio passa pela órbita da Lua, a 384 mil quilômetros da Terra.
Se tudo correr bem e nada enguiçar, começa outra fase crítica, do desdobramento do espelho principal, formado por favos hexagonais revestidos de ouro. Esses favos precisam ficar alinhados com a precisão de 1,5 nanometros (Um fio de cabelo mede 2,5 nanometros de espessura). E para conseguir essa precisão o desdobramento vai acontecer na velocidade com que se movem os ponteiros do relógio. Ao todo essa manobra de abertura do telescópio vai levar 29 dias e só deve terminar no final do mês de janeiro. Se tudo correr bem as primeiras imagens do telescópio só devem chegar daqui a seis meses.
Quem quiser acompanhar tudo passo a passo pode acessar o gráfico “Where is the Webb?”(Onde está o Webb?) que é atualizado em tempo real no site da agência espacial americana, em www.nasa.gov. O Webb também vai procurar por sinais de vida na atmosfera dos planetas que circundam outras estrelas da nossa galáxia.
Jorge Luiz Calife