
todos os pacientes com doenças neurológicas acabaram sendo impactados pelo isolamento social – Foto: Divulgação.
Volta Redonda- A pandemia do novo coronavírus, de acordo com a médica Neurologista e Neurofisiologista Thaís Magalhães, fez crescer o número de distúrbios neuropsiquiátricos, entre eles, os casos de transtornos de ansiedade, transtornos depressivos, piorando os quadros de cefaleia, distúrbios do sono, entre outros. A médica afirma ainda que o receio do desconhecido ou a falta de acesso a tratamentos adequados, visto que muitos consultórios médicos foram fechados para consultas presenciais, agrava ainda mais a situação.
– Nesse momento, alguns pacientes que já faziam acompanhamento de doenças neurológicas crônicas ficaram desassistidos, podendo ter apresentado piora de quadros clínicos – lamentou.
Os médicos também precisaram se readequar a essa nova realidade, ressaltou a médica Thaís, seja por meio da realização de tele consultas, devidamente autorizadas pelo conselho de classe. “O objetivo primordial desse novo meio de trabalho, consiste na necessidade de dar continuidade a tratamentos que não podem ser interrompidos, como é o caso de pacientes que fazem uso de remédios com receitas controladas”, ressaltou.
Consequência do isolamento social
A médica chama a atenção para o fato de que todos os pacientes com doenças neurológicas acabaram sendo impactados pelo isolamento social.
Segundo Thaís, a dificuldade de acesso aos remédios, em sua maioria controlados, já os deixa nervosos e acaba piorando por vezes doenças que estavam sob controle, como exemplo, pode-se citar pacientes epilépticos que, sem anticonvulsivantes, podem desencadear crises.
A dificuldade de realizar consultas multidisciplinares também pode piorar sintomas que estavam em remissão, como no caso de não ir ao psicólogo pode piorar o quadro de pacientes com ansiedade e depressão, desencadeando crises de dor de cabeça mais frequentes.
– Isto é, sem o auxílio do médico assistente e da equipe multidisciplinar na atenção dos pacientes neurológicos, teremos por vezes regressão de sintomas e piora clínica, mesmo em casos antes estáveis – lembrou.
Outra questão extremamente relevante, explica a neurologista, é em relação à emergência neurológica, onde pacientes que apresentam subitamente queixas neurológicas de um provável evento neuro vascular (AVC) necessitam ir a um pronto socorro o mais rápido possível, pois isso pode modificar o tratamento e gerar um melhor prognóstico do quadro. “Contudo, com medo de ir aos hospitais, que estão ficando lotados devido a infecção por Covid-19, esses pacientes perdem a chance de um tratamento precoce e efetivo”, agravando o seu quadro.
Sintomas neurológicos após a contaminação por coronavírus
Segundo a neurologista, muitos estudos demonstraram que paciente infectados por covid 19 podem apresentar acidente cerebral vascular, popularmente conhecido por derrame.
A exata frequência e os fatores de risco que geram esse evento ainda são incertos, ressalta a médica, mas acredita-se que a principal causa seja pela hipercoagulabilidade ocasionada pela doença, além de fatores de risco cardiovasculares dos próprios pacientes.
– Ainda, alguns pacientes apresentam, após a infecção pelo Covid-19, encefalopatias e alterações de nível de consciência (agitação, confusão mental) que se devem em geral pela resposta hiper inflamatória, na qual o sistema imune produz diversas citocinas inflamatórias que causariam danos neurológicos, além da própria ação direta viral – explicou a médica.
“Por fim, não podemos esquecer de mencionar sintomas de anosmia e parosmia que estão diretamente relacionadas as mudanças na percepção do olfato, como também a ageusia que, por sua vez, consiste na perda do paladar. Esses sintomas do olfato e paladar podem perdurar dias a meses após a infecção” completou a médica.
Buscas por tratamentos neurológicos aumentam na pandemia
Neste período de grande preocupação da população com os riscos de contaminação e da evolução da doença, houve um aumento pela procura da Neurologia decorrente dos transtornos de humor. Crises de ansiedade, transtorno depressivo, dificuldade de concentração, problemas no sono como insônias, piora de crises de cefaleia tensional e enxaqueca.
– Muitas das pessoas estavam inseguras, com medo de se infectarem, receosas devido as mudanças do modelo de trabalho adotado (home office), de perderem seus empregos e pela possibilidade de uma crise econômica associada a essa crise de saúde pública. Mas algo que chamou a atenção foi que esses distúrbios aumentaram entre a população mais jovem e em homens, o que não era tão comum antes – afirmou a médica.
A médica ressalta que tem reforçado a todos os seus pacientes, que neste momento, mais do que tomar medicamentos, é preciso estabelecer bons hábitos de vida. “Logo, ter uma boa alimentação, procurar fazer atividade física, fazer uma boa higiene de sono e dormir adequadamente são medidas que surtirão efeitos positivos na vida das pessoas não só no campo neurológico, mas na saúde em geral”, aconselha.