Rio Claro– A ligação cada vez mais estreita entre traficantes do Sul Fluminense e da Costa Verde passa pela RJ-155 e tem no meio do caminho a pequena cidade de Rio Claro. Com apenas 17 mil habitantes, o município conserva um grande território verde e é cortada pela principal estrada que une as duas regiões, principal acesso a Rio-Santos (BR-101), último ato antes da chegada ao litoral. Com isso, Rio Claro sempre foi um ponto de passagem de turistas e veranistas que saem de Volta Redonda e Barra Mansa com direção a Angra dos Reis. Esse posicionamento geográfico, no entanto, tem sido usado agora pelo comando da Polícia Militar para tentar quebrar o elo cada vez mais forte entre a criminalidade destas três cidades.
O trabalho está sendo feito basicamente a partir dos dois DPOs (Destacamento de Policiamento Ostensivo) instalados na cidade, com resultados expressivos no combate aos traficantes que agem no Sul Fluminense e na Costa Verde. Outras ações destacadas também foram feitas pela Polícia Civil local. Levando-se em conta as apreensões de drogas feitas durante todo o ano passado e aquelas realizadas até a primeira semana de outubro deste ano, o salto é de 61%. Nos 12 meses de 2018, foram 55 apreensões de drogas e entre janeiro e a primeira semana de outubro já são 74 ações do tipo.
Três apreensões recentes feitas pela Polícia Militar na cidade chamaram atenção, pelas características parecidas. As três foram feitas a partir de abordagens em ônibus que estavam saindo de Angra dos Reis com destino a Barra Mansa e Volta Redonda, tendo mulheres usadas como “mulas” do tráfico. Foram três presas nas duas ações, levando drogas já prontas para venda em bolsas típicas de viagem. Duas jovens foram presas ao tentar levar 1,6 mil pinos de cocaína do bairro Japuíba para Barra Mansa. Outra mulher foi detida com 1,5 mil pinos da mesma droga. Na semana que passou, uma terceira mulher foi presa com 743 trouxinhas de maconha.
De acordo com a polícia, ao que parece as comunidades de Angra dos Reis e do Sul Fluminense se ‘socorrem’ em momentos de dificuldades. Isso vem do fato de grandes montantes de drogas serem apreendidos, mas que já são transportados prontos para a venda. O mais provável, segundo a polícia, é que Angra esteja se tornando um ponto de mercado varejista para o Sul Fluminense nestes momentos de aperto.
Apreensões de armas e prisões cresceram
Os números de apreensões de armas também cresceram, analisando o período entre janeiro e início de outubro de 2018 e 2019. No ano passado, foram oito armas recolhidas, enquanto neste ano já foram 13. O dado mais impressionante, no entanto, chega pela alta nas prisões em flagrante feitas em Rio Claro. Ao longo de todo ano passado, foram 17 detenções contra 42 feitas entre janeiro e a primeira semana de outubro. Com isso, o número já é 223% maior e ainda restam mais de 80 dias para a conta fechar.
Entre as prisões feitas este ano, duas chamaram atenção e tiveram repercussão nacional. Além disso, comprovam a importância estratégica da cidade na geopolítica do tráfico de drogas no estado do Rio. O suspeito de liderar uma milícia que age em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e seu guarda-costas foram presos pela Polícia Civil, nesta quinta-feira. Os suspeitos foram identificados como João Teixeira dos Passos, conhecido como “Jota”, e Ednílson Jesus da Silva, o “Baiano”. Eles foram encontrados no distrito de Lídice.
Segundo informações da delegacia da Posse, a 58ª DP (Posse), o primeiro é líder de uma milícia que atua nos bairros Fazenda da Grama, Figueiras, Miguel Couto e Vila de Cava. O segundo, ainda conforme os agentes, seria segurança. Jota seria o responsável por vender apartamentos dos dois prédios que caíram na Muzena, Zona Oeste do Rio. Segundo investigações da Polícia Civil, o objetivo da dupla era expandir os negócios para o interior do estado, a partir de Rio Claro.
Aliança entre traficantes da região
vai além das remessas de drogas
Em julho, o DIÁRIO DO VALE divulgou uma reportagem mostrando como as relações entre traficantes do Sul Fluminense e da Costa Verde estão cada vez mais estreitas. Na época, a inteligência da Polícia Militar apontou que Willemsen Luiz da Silva, 44 anos, conhecido como “Vidigal”, estava dando abrigo a Elmo Silva Lopes Junior, o “Juninho Nazaré”, de 32. Os dois são os homens mais procurados da região.
“Vidigal” controla a venda de drogas no Camorim Grande e Lambicada, em Angra dos Reis. A partir destas comunidades, ele lidera as ações para tomada de pontos do tráfico em outros bairros da cidade. O Disque Denúncia oferece R$ 10 mil de recompensa por informações que levem à prisão de Vidigal. Na “ficha” do procurado, constam dois mandados de prisão em aberto e a informação de que ele recebeu treinamento militar.
Juninho Nazaré estaria escondido na Lambicada, sob proteção de Vidigal. A PM apontou que existem cinco mandados de prisão em aberto contra Juninho Nazaré, que atua ostensivamente no Getúlio Vargas e Paraíso, em Barra Mansa e na área do Complexo Roma, em Volta Redonda.
Ação do DPO deixa vida mais
difícil também para usuários
Com uma movimentação maior das forças de segurança, a já pacata Rio Claro acabou se beneficiando ao ter os índices de criminalidade – já baixos – ainda mais reduzidos. Em 2018, por exemplo, foram cinco roubos a estabelecimentos comerciais, contra apenas um até agora em 2019. Os roubos de rua caíram de seis para dois e o total de roubos foi de 21 para 10.
Outro dado interessante é que cresceram as apreensões de pequenas porções de drogas. Em geral, feita em carros de turistas que estão seguindo em direção às praias de Angra dos Reis e Paraty. Em todo o ano passado, foram registradas 43 apreensões por “porte e uso” de drogas. Até a primeira semana de outubro deste ano, esse número passou para 57, com aumento de 68%.
Comandante afirma que intenção é
criar barreira e impedir fugas
A comandante do 28º Batalhão da PM, Tenente-Coronel Luciana de Oliveira, afirmou que a intenção é mesmo formar uma barreira que dificulte essa comunicação e troca de ações entre bandidos das duas regiões. “Nossas ações foram intensificadas no município de Rio Claro com o objetivo de criar uma barreira em nossa região de possíveis fugas para a nossa área. Nosso planejamento é esse”, destacou.
A policial disse ainda que a ordem é parar todos os veículos coletivos possíveis, bem como todos os carros de passeio que por alguma razão chamem a atenção dos policiais. Ela destacou o fato de muitas mulheres terem sido presas no DPO de Rio Claro recentemente. “Elas têm sido usadas pelos marginais para o transporte de drogas, pois os marginais acham que por ser mulher não vai ser abordadas, mas isso é uma ‘doce ilusão’. Recentemente, nossas maiores apreensões foram em abordagens a mulheres. Não vamos dar trégua pra bandido. A população merece nosso empenho e estamos dedicados a manter nossas cidades tranquilas”, afirmou.