Volta Redonda – Uma reunião na manhã desta quinta-feira (12), na sede da Secretaria de Ordem Pública, definiu as ações de uma força-tarefa criada para coibir a venda ilegal de armas de gel e conter o avanço das chamadas ‘guerras’ nas comunidades de Volta Redonda. A medida foi adotada após o crescimento do comércio irregular por lojas e ambulantes e a circulação de vídeos nas redes sociais que mostram jovens, de diversos bairros, utilizando simulacros de pistolas, revólveres e fuzis carregados com balas de gel. Os confrontos estão assustando moradores de diversos bairros da cidade. No Ingá 2, no Santa Cruz, e no Eucaliptal, os grupos estão organizando invasões e confrontos. Em um dos vídeos, um jovem é amarrado ao poste e atacado por mais de 20 pessoas. Apesar do tom de brincadeira, no mesmo vídeo, aparecem homens com roupas camufladas.
A reunião foi coordenada pelo secretário de Ordem Pública de Volta Redonda, coronel Luiz Henrique, e contou com a participação do delegado titular da 93ª DP, Vinicius Coutinho, do coordenador do Segurança Presente, major Silvério, dos conselheiros tutelares Neandro Chaves e Bruno Nicolau, além do comandante da Guarda Municipal, Silvano Teixeira, e de um representante do 28° Batalhão de Polícia Militar. A Secretaria de Fazenda de Volta Redonda também irá atuar na força-tarefa fiscalizando ambulantes e comércio.
“É um tema que tem nos preocupado muito. Essas ações têm ocorrido nas periferias e podem ter um desdobramento muito ruim. Pode começar como uma brincadeira e terminar como uma tragédia, além da questão criminal. Pode gerar uma lesão corporal, um dano e, logicamente, essas armas não estão entrando em Volta Redonda, apesar de serem brinquedos, de forma regular. Todos nós vamos intensificar as fiscalizações dentro das suas atribuições”, ressaltou Luiz Henrique.
O delegado de Volta Redonda, Vinicius Coutinho, explicou que a polícia está atenta a essas situações e que medidas estão sendo adotadas para prevenir possíveis abusos e ilegalidades.
“Ainda estamos compreendendo essa situação, que é um evento novo. Em muitos casos, foge do alcance criminal da nossa atuação, mas vamos colaborar na medida do possível para tentar conter o avanço desses problemas, que podem gerar algum impacto na Ordem Pública da cidade.
Vamos avaliar esses casos. Essas armas serão apreendidas, inclusive as que estiverem legalmente circulando nas ruas, nas mãos de menores ou sendo oferecidas no comércio. Avaliaremos se há efetivamente algum crime envolvido, como contrabando ou crimes contra as relações de consumo, já que muitas dessas armas e brinquedos não possuem as certificações necessárias.
Além disso, também podem estar sendo usados de forma indevida para coagir moradores, ameaçar outras pessoas ou até mesmo lesioná-las. Já observamos alguns casos em que as munições de gel estão sendo trocadas por outros objetos com potencial lesivo”, disse o doutor Vinicius.
Apesar desse objeto demonstrar ser um perigo iminente e promover o desejo de ter uma arma, o delegado não acredita que isso seja uma estratégia do crime organizado para preparar futuras gerações.
“Eu acho que não. A visão inicial que tenho é de que isso é mais uma espécie de repetição de comportamento. De repente, eles veem em filmes, em vídeos da internet ou, às vezes, até por observação de criminosos locais. Mas não acredito que seja uma ação orquestrada. Pelo menos, no momento, não tenho nenhum indício disso”, fala o delegado.
A força-tarefa vai usar o número 156 como canal para receber as denúncias.
Jovens usam touca ninja, escondem os rostos, mas não protegem os olhos
O uso de armas de gel já se tornou uma tendência entre os jovens, não apenas em Volta Redonda, mas em várias partes do Brasil. Apesar das diferenças entre os estados do país, algumas características dessas “brincadeiras” se repetem em diversos locais. Correr pelas ruas das cidades com os rostos cobertos por blusas, simulando o uso de balaclavas, andar em grandes grupos e participar de competições de tiros são comportamentos que têm se tornado comuns, especialmente em bairros periféricos, ganhando destaque nas redes sociais.
Alguns modelos dessas armas são capazes de disparar até 300 bolinhas de gel por minuto, o que pode causar acidentes graves ao atingir áreas sensíveis do corpo, como os olhos, orelhas e nariz. No entanto, o que chama mais atenção é o fato de que quem utiliza essas armas só se preocupam em esconder o rosto e a identidade com uso de touca ninja, mas não outras áreas do corpo que também estão em risco, principalmente, os olhos.
Tolerância zero: armas são simulacros de fuzis e pistolas
A preocupação do coronel Luiz Henrique tem fundamento. As armas de gel, em sua maioria, são simulacros de pistolas e fuzis e estão sendo vendidas livremente em lojas, no comércio ambulante, e principalmente, pela internet. Existe uma suspeita de que as ações são orquestradas para confundir as forças de segurança durante operações e patrulhamento nas comunidades onde o crime organizado tem forte presença.
“Esses territórios acabam tendo influência do tráfico de drogas. Não existe um discurso de discriminação, mas há uma preocupação. O agente público de segurança acaba entrando nessas comunidades com mais cautela. As armas se assemelham muito com as reais, a vestimenta das crianças e adolescentes se assemelham aos usados pelos criminosos. Iremos agir com rigor. O estabelecimento comercial regular será alertado sobre a venda irregular desse produto e as ruas serão envolvidas pelos agentes de segurança para que a tolerância seja zero para a venda e porte dessas armas”, disse o secretário de Ordem Pública.
Os preços variam. Um simulacro de fuzil M16 custa R$ 167,49, enquanto o simulacro de fuzil de fabricação russa AK-47 sai por R$ 158,40. Já o kit com 10 mil bolinhas custa R$ 25,00 na internet. E não é apenas na internet que essas armas podem ser encontradas; nas típicas feiras livres da cidade, o objeto já faz sucesso entre os jovens.
Outros órgãos municipais também demonstram preocupação com a comercialização desse objeto. A diretora de fiscalização de atividade econômica de Volta Redonda, da Secretaria Municipal de Fazenda, Elisangela Almeida, explicou como pretende impedir, através da fiscalização, o aumento desses objetos nas ruas.
“A partir de segunda-feira (16), as fiscalizações serão intensificadas em parceria com a Polícia Militar, Polícia Civil, Secretaria de Ordem Pública e Guarda Municipal. Iniciaremos pelo comércio ambulante, aquele que não possui licença; as mercadorias serão apreendidas e encaminhadas à 93ª Delegacia de Polícia, com possibilidade de autuação. Nos estabelecimentos licenciados, inicialmente verificaremos o alvará, a legalidade dos produtos comercializados, a licença, as notas fiscais e a situação tributária da empresa. Vamos intensificar as ações para coibir e tentar reduzir esse tipo de comércio, que tem gerado tantos transtornos nos últimos dias”, falou a diretora.
Conselho Tutelar fará campanhas educativas
Presente na reunião, o conselheiro Tutelar Neandro Chaves disse como será a abordagem do conselho para conscientizar a população sobre os perigos das armas de gel.
“Vamos começar a trabalhar com vídeos e materiais informativos para mostrar aos pais a necessidade de conscientizar seus filhos para que não repassem esse tipo de material, porque pode causar lesões em outras pessoas e trazer danos à ordem pública. O conselho se dedicará à conscientização, pois nosso dever é garantir os direitos dos jovens. Não trabalhamos com punições, mas com a prevenção, e esse é nosso papel: realizar uma ampla divulgação para que consigamos conscientizar e minimizar os danos que podem ocorrer no futuro”, disse o conselheiro.
Sobre a campanha que será realizada, o também conselheiro Bruno Nicolau explicou qual é o objetivo desse projeto.
“A força-tarefa é necessária para pegar na ponta, porque, se esse objeto está chegando até as crianças e adolescentes, é porque alguém está fornecendo. Então, precisamos que a segurança pública possa minimizar os danos causados futuramente a esse jovem. A intenção do conselho tutelar é sempre educativa e protetiva. Porque, às vezes, os pais e os jovens não têm conhecimento do dano que esse objeto pode causar, tanto a ele, quanto a um colega ou a quem está por perto, pois pode causar um ato infracional, caso ele venha a lesionar um olho, um ouvido de alguém nessa batalha de brincadeira”, afirmou ele.
2 comments
“Existe uma suspeita de que as ações são orquestradas para confundir as forças de segurança durante operações e patrulhamento nas comunidades onde o crime organizado tem forte presença.”
Quanto devaneio kkkkkkkkkk, só estão fazendo esse alarde todo porque é brincadeira da periferia, de pobre. E se der merda? deu, mas as pessoas possuem liberdade para brincar disso e correr os riscos, nos campos, quadras, nas ruas. Quero ver mostrar onde isso é CRIME no código penal. Cadê a tipificação?
Podem cometer assédio com os feirantes, lojistas, camelôs, mas na internet a venda é liberada e não há nada que vocês possam fazer contra isso.
Repúdio a desinformação causada pelo jornal diário do vale, não há nenhuma prova na matéria de que pessoas do bairro santa cruz estão organizando para ir a outros bairros (notavelmente conhecido por ser bairro de facção rival), jornal está agindo de forma leviana e sujando a reputação de um bairro. Tudo isso para causar desinformação, pânico, sensacionalismo em cima de uma brincadeira e lazer da periferia.
Quero ver a SEMOP, a PM apreender arma de bandido de verdade, os vários fuzis que há na cidade.
tem mt gente que só quer meter estado em tudo, que o estado tem que proibir, cercear os direitos e a liberdade.
Tinha que ter um local pra galera se reunir com isso ai e brincar usando óculos de proteção, em um espaço adequado que não seja as ruas.
A própria ilha são joão, abandonada.
Agora vão fazer operação relâmpago para achincalhar comerciantes e camelôs, apreender as mercadorias e verificar se tem NF, e se pagaram o imposto devido pro Neto.
Enquanto isso, o crime organizado continua firme e forte, quase que intocável.
O único argumento legal que estão usando é o artigo 15 do Estatuto do Desarmamento, sobre réplicas de armas de fogo, mas ainda nem existe lei que proíba armas de gel, seja no âmbito municipal, estadual ou federal. Parece que a prioridade de Volta Redonda é fazer blitz para apreender moto e arma de gel.
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