Jerry Lewis, morto semana passada, foi um dos maiores astros do cinema em meados do século passado. Uma época muito interessante marcada pela Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética, a invenção do rock and roll, a popularização dos quadrinhos e o movimento Beatnik. Assistir a um filme do Jerry Lewis, hoje em dia, é como viajar no tempo para os frenéticos anos de 1950 e relembrar os costumes e as modas daquele tempo.
É o caso de “Artistas e Modelos”, de 1955, que foi filmado no auge da controvérsia em torno do livro do psicólogo Fredric Wertham – “A sedução dos inocentes”. Wertham achava que os quadrinhos de terror e super-heróis eram violentos demais e podiam prejudicar a mente das crianças. No filme Jerry Lewis é Eugene, um rapaz ingênuo que tem pesadelos com as histórias de super-heróis. Seu amigo Rick (Dean Martin) é desenhista de quadrinhos e usa os sonhos do amigo para criar as histórias da Batmulher. O problema é que ele contrata uma modelo, Bessie (Shirley MacLaine) para posar para os desenhos da super-heroína. E ela se apaixona pelo Eugene.
Na vida real o livro de Wertham levou as editoras de quadrinhos a adotarem um código de conduta, uma autocensura, limitando a violência nas histórias. Outro filme interessante é “Rabo de Foguete”, que foi baseado em uma peça de Gore Vidal, “Visita a um pequeno planeta”, que fez muito sucesso na Broadway. No filme Jerry é o extraterrestre Kreton que vem para a Terra estudar os humanos. Ele quer descer no século XIX para encontrar o general Lee (aquele cuja estátua provocou protestos racistas nos EUA), mas acaba em 1960, na mansão de um famoso âncora da televisão.
A filha do jornalista leva o ET para um clube de jazz onde Kreton faz um dueto com Desdemona (Bárbara Lawson) uma cantora e dançarina Beatnik. Os Beatniks eram membros de um movimento jovem de contestação batizado pelo poeta Jack Kerouac, muito popular nos anos 50. Seus membros eram pacifistas e adoravam poesia concreta e música de jazz. Tinham fama de usar drogas e eram vistos com desconfiança pelo resto da sociedade. As Beatniks gostavam de roupas colantes como legging e body e a Desdemona é uma caricatura dessas figuras hoje esquecidas.
“O delinquente delicado” (1957) brinca com a moda dos filmes sobre gangues juvenis que faziam sucesso na época. Filmes como “Juventude Transviada” do James Dean e “Amor sublime amor” da Natalie Wood. Lewis é preso por engano ao ser confundido com um membro de uma gangue. O policial resolve dar uma nova oportunidade de vida para o rapaz, fazendo ele ingressar na academia da polícia. Reparem em uma participação de Frank Gorshin, que ficou conhecido como o Charada na antiga série do Batman.
Jerry Lewis e o cantor Dean Martin formaram uma dupla que se desfez em 1956 e Lewis nunca perdoou seu antigo parceiro. Em “O professor aloprado” (1963), versão pop do “Médico e o monstro” de Robert Louis Stevenson, Jerry bebe uma fórmula maluca e vira um cantor de boate, Buddy Love, que é uma paródia do Dean Martin. “O professor aloprado” foi um dos primeiros filmes a abordar o universo das High Schools americanas.
Nos anos 60 Lewis se tornou mais contido em suas caretas e nas suas performances – como aconteceu com o Jim Carrey em tempos mais recentes -, e seus filmes são cheios de comentários sociais. Como “De caniço e samburá” onde ele acredita que está com os dias contados e acumula uma dívida impagável. Os anos 60 foram a década da corrida espacial, satirizada por Lewis em um de seus filmes menos conhecidos, o futurista “Um biruta em órbita”.
Hoje os filmes do Jerry Lewis estão disponíveis em DVD e na Internet. Quem domina o inglês pode assistir “Rabo de foguete” inteiro no YouTube.
Por Jorge Luiz Calife
1 comment
Muito interessante, esta época definiu os padrões do que viria nas décadas seguintes até os nossos dias, para o bem e para o mal. Descanse em paz!
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