A Aldeia da Lua

by Agatha Amorim

Foto: Marcos Salume

As duas metades da década de 90 se separadas, são como um “antes e depois” para mim, quando lembro como estava a cena musical, do rock, na noite regional. Até 1995 ainda resistiam bandas oriundas da década de 80 e que naquele instante foram desparecendo ou encerrando suas atividades. Casos de Volúpia, O Cúmulo e Madeira de Lei, das que me lembro de terem acabado exatamente ali.

A música no mundo e no Brasil passava por transformações. Lá fora o grunge e as bandas de Seattle já estavam ditando os novos rumos do rock quando colocaram pra escanteio (ou passaram um rolo compressor mesmo) todas aquelas bandas do chamado “Hair Metal”. O termo “alternativo” passou a vigorar para definir as novas bandas que fugiam de toda aquela estética visual e sonora reinante no mainstream.

No Brasil, o começo da década foi tomado pela ascensão das duplas sertanejas e a consequente explosão da música baiana de carnaval, o “Axé Music”. No quesito rock, bandas oriundas do underground começavam a emergir com influências muito mais brasileiras somadas ao rock/hardcore/punk/metal, etc. Chico Science & Nação Zumbi, Planet Hemp e Raimundos foram algumas a representar aquele novo rock.

Foto: Marcos Salume

Herbert Vianna disse num show dos Paralamas no Comercial em 1998: “Essa década foi marcada por três grandes músicas: ‘Manguetown’, ‘Mantenha o Respeito’ e essa que vamos tocar agora…”. Nisso puxaram “Eu Quero Ver o Oco”, colocando o clube abaixo. Lobão, outro que ganhou projeção nos anos 80, quando viu surgir as bandas dos anos 90 disse: “essas bandas são muito mais originais que as da minha geração”.

Na noite da região podemos acrescentar outro fator: a música ao vivo de “barzinho”, vamos dizer. Os salões dos clubes onde as bandas dos anos 80 mencionadas acima faziam shows em domingueiras, passaram a ser somente local destinado à DJs, ao funk ou à música baiana; a uma noite mais “festiva”, digamos. O surgimento das micaretas, os carnavais fora de época, impactaram radicalmente nos eventos por aqui.

A partir de 1995 eu vejo uma mudança muito clara. Houve uma explosão de bares com status de “noitada” com música ao vivo, onde duplas passaram a dominá-los. Não sertanejas, mas majoritariamente MPB. Quem puxou a fila pra cima foi Julinho Marassi & Gutemberg, na ativa até hoje. Vale lembrar que Julinho nos anos 80 também fez parte de uma (boa) banda de rock, o Boca Atentada.

Foto: Marcos Salume

Com o sucesso deles nos bares, todos os ademais abriram as portas para o formato. Duplas clássicas e/ou voz e violão passaram a figurar: Éliton & André, Sidney & Ailton, Jorginho Iris, Juarez, etc. Eu que fiz parte do Madeira de Lei de 91 ao seu fim, em 95, também precisei entrar pra este circuito da noite com o Toni Madeira. Mais uma porção atuou nessa frente: Dinho & Nill, Alex & Setas, Marlos e Mingau, etc.

Foi naquele ambiente que as bandas de rock que vinham de antes desapareceram. As que surgiam nos anos 90 iam pros locais mais alternativos da cidade. Neste contexto surgiu um espaço que durou apenas um ano (de 1996 a 97), o Aldeia da Lua, localizado num grande terreno no bairro Aterrado e que marcou época! Além de abrir espaço pra todo tipo de artista/banda local, abrigou muito show grande.

Passaram por lá Planet Hemp, Celso Blues Boy, Blues Etílicos, Baseado em Blues, Zé Ramalho, Forróçacana, Barão Vermelho (na turnê espetacular do “Álbum”, o disco de covers do Barão); além da turma local.

Foto: Marcos Salume

Marcos Salume (que já tinha a quilometragem de ter comandado o Porão durante anos) e Marcelo Ximbica estiveram à frente na produção de lá. Abriram as portas pra festas universitárias e eventos culturais que contaram com shows de Zumbi do Mato, The Invisible, MC Lelin, Speedy Gonzalez (estes abriram pro Planet), dentre outros. Também toquei lá com o Toni Madeira e tantas das duplas citadas acima. A Aldeia era democrática e tinha uma aura que a maioria da noite de Volta Redonda não possuía.

Na virada pros anos 2000 muita coisa aconteceu, aí foi a vez da maioria das duplas se desfazerem. Eu voltei pro meu habitat natural (o rock), mas isso é papo pra outro dia…

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