Sérgio Reis: Uma vida, um talento já está disponível nas bancas

by Diário do Vale

Conhecido como um dos maiores cantores sertanejos de todos os tempos, dono de carisma singular, Sérgio Reis já foi Johnny Johnson. Já cantou rock, já foi funcionário de uma companhia de seguros e estoquista no Bazar Lorde. Já foi fazendeiro, estrela de cinema e dono de pousada no Pantanal. Seu primeiro instrumento musical foi um pandeiro. Sua escola de música, as farras e serestas em família.
“Sérgio Reis: Uma vida, um talento”, traz a biografia do cantor que também é ator e político, apresenta estes e outros detalhes surpreendentes de uma vida repleta de aventuras, conquistas e descobertas. Narra desde a história de seus avós paternos, que migraram da pequena vila italiana onde viveu o autor do clássico infantil Pinocchio, até a homenagem recente que recebeu na aldeia Ki-Kre-Tum, uma reserva caiapó do Pará. Passa pelo envolvimento de Sérgio com a Jovem Guarda, a adolescência a bordo de uma vespa, a devoção a São Judas Tadeu, a viagem a barco pelo norte do Brasil, em 1968, a famosa participação ao lado de Almir Sater na novela O Rei do Gado, como a dupla Pirilampo e Saracura — e em outras tantas novelas juntos, em leal parceria —, a amizade sincera com Renato Teixeira e o acidente vascular cerebral que teve em pleno voo, em 2002.
Ao mesmo tempo, o livro compõe uma saborosa viagem pelo cenário cultural de diferentes épocas do Brasil. Relembra a época áurea de cinemas paulistas como Marabá, Ipiranga e Marrocos, nos quais se exigia até dos adolescentes que usassem terno e gravata. Passa pela Jovem Guarda, pela Tropicália, pelos programas de calouro, pela era dos festivais, pelo BRock dos anos 80. Explica por que a viola é muito mais do que o símbolo da música do interior. E ainda traz à tona episódios marcantes do cancioneiro popular, como o show de Orlando Silva no Teatro Colombo, em 1937, quando o cantor acabou fazendo uma apresentação na sacada, para as 10 mil pessoas que não conseguiram entrar no auditório já lotado. Ou a história por trás da clássica canção Rosa, de Pixinguinha, que ganhou letra de um jovem e desconhecido mecânico do bairro carioca de Engenho de Dentro, nada menos que 15 anos depois de criada a melodia. Ao fazer isso, o livro resgata figuras fundamentais das artes brasileiras, como Teddy Vieira, o mais importante letrista de músicas sertanejas e responsável pelo sucesso de vários artistas caipiras, e João Pacífico, poeta fundamental do cancioneiro caipira-sertanejo. Foi este, aliás, quem fixou um estilo antigo e caipira de se declamar, antes da música, um texto que, de certa forma, prepara o tema central.
De quebra, a biografia de Sérgio Reis ainda lança luz à história da música sertaneja no Brasil. O autor refuta a tese de que sua gênese estaria no grupo de cantores e humoristas — a Turma Caipira — criado por Cornélio Pires nos anos 1920, uma vez que há registros de gravações como “Cateretê Paulista” já em 1912. Além disso, os Teatros de Revista já apresentavam peças de inspiração caipira em 1914.
Sérgio Reis — que, na verdade, se chama Sérgio Bavini, mas que atende também pelo apelido de Serjão — buscou desde cedo um estilo diferente de cantar. Queria fazer sua arte sem os grandes arroubos dos nomes que faziam sucesso nas rádios, como Francisco Alves, mas também não desejava cantar com o estilo suave e quase jazzístico de Orlando Silva. A busca por uma marca própria norteou sua vida, levando-o a experimentar diversas vertentes artísticas. A biografia do artista mostra como foi o contato com a potência e a diversidade do país que levaram Serjão a encontrar seu caminho. “Desde cedo, o Brasil representou pra mim uma aventura que precisava ser descoberta”, afirma, em entrevista para o autor do livro.
Sérgio Reis: Uma vida, um talento traz, ainda, inúmeras fotos de época, além da discografia completa do cantor. Suas páginas revelam não apenas causos e fatos que despertam a curiosidade de amantes da música caipira, mas também compõem um retrato abrangente e sensível da exuberância que tem marcado a música popular no Brasil.

Trecho
A decisão de enveredar de vez pelo universo da música caipira não foi fácil. Sérgio já era conhecido na Jovem Guarda, tinha um público fiel, era bom compositor e sua voz melodiosa agradava o público adolescente. Convivia com todo o grupo – Os Vips, The Jet Blacks, Ronnie Von, Roberto Carlos, Erasmo, Celli Campello, mas especialmente com Tony Campello, que já havia se tornado, além de cantor, um produtor eficiente. E, depois, os direitos autorais de suas músicas começavam a render o suficiente, e ainda havia a receita de shows que fazia em várias regiões do país.
“Eu mesmo me pergunto como foi essa mudança”, diz Sérgio Reis numa tarde de conversa na Serra da Cantareira, onde vive, em São Paulo, vizinho de seus dois inseparáveis amigos: Renato Teixeira e Almir Sater. “Tenho certeza de que começou quando eu era ainda menino e acordava cedo para ouvir o programa do Tonico e Tinoco, Na Beira da Tuia, que eles apresentavam na Rádio Bandeirantes. Embora eu tenha nascido em São Paulo, na zona Norte, sempre fui fascinado pelas coisas do interior. Ter convivido com todos os tipos de música, que ouvia também em casa – meu pai era um belo seresteiro –, acho que foi determinante pra essa minha fascinação. Desde cedo, o Brasil representou pra mim uma aventura que precisava ser descoberta. Eu sonhava com fazendas, com boiadas, com uma vida livre. Assim que comecei a viajar, fazendo shows, ainda no tempo da Jovem Guarda, esse desejo de conhecer melhor o Brasil se aprofundou em mim. E, depois, a música sertaneja era a música que eu mais gostava de escutar.”
Na verdade, ninguém no grupo da Jovem Guarda sequer acreditou na história do Sérgio – essa bobagem de cantar sertanejo. Tomavam como mais uma esquisitice ou quase uma piada, já que o Grandão era, talvez, o mais animado e engraçado de toda a turma, sempre alegre, sempre buscando alguma brincadeira nas longas viagens de ônibus.

O Autor
Murilo Carvalho nasceu nas montanhas do Sul de Minas Gerais. Jornalista, escritor e diretor de documentários para TV, trabalhou nos principais veículos de comunicação do país. Foi repórter do jornal Movimento, responsável pela seção “Cenas Brasileiras”. Trabalhou ainda na Folha de S. Paulo, na Rádio Nacional e em revistas da Editora Abril. Dirigiu programas rurais nas TVs Bandeirantes e SBT, além de programas de rádio. Sua obra inclui vários livros de reportagem sobre o Brasil profundo e sua gente. O livro de contos Raízes da morte recebeu o prêmio do concurso de contos do Paraná, em 1974. Recebeu também, em Portugal, o prêmio Leya, em 2008. Nos últimos 25 anos, dirigiu um programa de rádio apresentado por Sérgio Reis, o Siga Bem Caminhoneiro, em cadeia nacional de 170 emissoras. Vem daí sua amizade e convivência permanente com Sérgio Reis.

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2 comments

Anônimo 4 de setembro de 2018, 02:25h - 02:25

Já contou tudo. Não preciso mais comprar o livro… He he.

Recruta Zero 3 de setembro de 2018, 14:15h - 14:15

Grande artista, infelizmente político oportunista.

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