A revolução da Blitz

by Vivian Costa e Silva

Quando “Você Não Soube me Amar” da Blitz estourou no país em 1982, um portal se abriu e uma nova linguagem, uma nova música bagunçou em cheio a cabeça do público jovem daquele início de década. A partir dali a indústria fonográfica, a cinematográfica, o mercado em geral abriu os olhos pra aquele nicho que se descortinava como um céu de brigadeiro e começou a apostar em tudo o que fosse possível faturar.

É óbvio e sabido que o rock brasileiro vem de muito antes, não nasceu nos anos 80. Celly Campelo na década de 50; passando pela Jovem Guarda, Erasmo; depois ao revolucionário Mutantes, ao fenômeno Secos e Molhados, Rita Lee, Raul Seixas, O Terço e todas as bandas de rock progressivo dos anos 70, são alguns dos nomes.  Mas é a partir do estouro da Blitz que uma gama de banda (que já existia antes ou que surgiram no embalo) conseguiu oportunidade para aparecer também. O punk paulista já fazia barulho no ABC; os embriões das bandas de Brasília idem. Mas quem mandava nas gravadoras ainda eram os medalhões da MPB – e muitos deles torciam o nariz.

No Arpoador o Circo Voador surgia. Uma galera de teatro “Asdrúbal Trouxe o Trombone” (formado por Regina Casé, Luís Fernando Guimarães, Patrycia Travassos, Nina Pádua, Hamilton Vaz Pereira, Perfeito Fortuna e Evandro Mesquita), trazia em suas peças esquetes e diálogos que futuramente acabariam por servir de inspiração para a identidade que a Blitz viria a ter.

No Teatro Ipanema o grupo teatral também se apresentava antes da Marina. A banda base da cantora acabou dialogando e se juntando à Evandro e Ricardo Barreto naqueles ensaios antes das apresentações. Tocavam com a Marina: Lobão na bateria, Antônio Pedro no baixo, Billy Forghieri no teclado e Zé Luís no sax.

A Blitz surge daí. As meninas (Márcia Bulcão e Fernanda Abreu) entrariam logo em seguida. Como o Evandro gosta de dizer, era o “vento no coqueiro, uma linguagem direta, de praia, inicialmente falando pra nossa turma de 30 pessoas, uma coisa colorida, nova, divertida”. Fatos que fizeram muitos paulistas do rock olharem meio torto pra eles. A galera da camisa preta, dark, com um discurso mais ácido não aceitou bem.

Fato é que só o compacto com “Você Não Soube me Amar” vendeu mais de um milhão de cópias. Depois é que veio o primeiro disco e na sequência os dois derradeiros, antes do rompimento em 1986. Mas esses quatro anos foram suficientes pra estabelecer um marco no rock brasileiro. Eles estamparam propagandas de shampoo, de café, marca de roupas, tiveram álbum de figurinhas. Foi uma “blitzmania”.

Como eu estava com meus 8, 9 anos, lembro-me bem de no colégio todos utilizarem os bordões das músicas, “ok, você venceu”, “calma, Bety, calma!”. Vieram à Barra Mansa (RJ) pro show no Ilha Clube. Não tinha idade pra ir, mas é viva a memória de ver os mais velhos da minha rua indo pro show, meu pai na calçada dizendo, “estou com o cabelo igual ao do Evandro”. Ditaram moda.

Quando acontece o primeiro Rock in Rio, que mudaria o show bizz no Brasil, eles já estavam no auge e ao mesmo tempo, pra acabar, devido à briga de egos, esgotamento físico e mental, dinheiro, etc. Mas eram ali no palco sagrado a banda até então mais bem produzida do país. Tinham um letreiro que cobriu o palco inteiro, todos os adereços da turnê estavam lá: um carro que entrava no meio de uma música, persianas, bola gigante.

O auge foi tamanho que Evandro Mesquita foi escolhido pra representar o Brasil numa propaganda da Pepsi cantando ao lado de ninguém menos que Tina Tuner… Foi este, aliás, o bizarro motivo do fim. Alguns membros da banda ficaram com ciúmes, é mole?

Voltaram pra um revival oitos anos depois, na década de 90, mas alguns integrantes acabaram rompendo de vez. Dos remanescentes do estouro, hoje ainda restam Evandro, Juba e Billy. Seguem na ativa. Viva a Blitz!

 

 

 

 

You may also like

diário do vale

Rua Simão da Cunha Gago, n° 145
Edifício Maximum – Salas 713 e 714
Aterrado – Volta Redonda – RJ

 (24) 3212-1812 – Atendimento

(24) 99926-5051 – Jornalismo

(24) 99234-8846 – Comercial

(24) 99234-8846 – Assinaturas
.

Image partner – depositphotos

Canal diário do vale

colunas

© 2024 – DIARIO DO VALE. Todos os direitos reservados à Empresa Jornalística Vale do Aço Ltda. –  Jornal fundado em 5 de outubro de 1992 | Site: desde 1996