Demissões na CSN serão assunto de reunião com o ministro do Trabalho

Volta Redonda –  A direção do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense reuniu diversas lideranças políticas da região na manhã desta quarta-feira (23)  para traçar planos para reverter a intenção da CSN de fazer demissões. Durante o encontro, o senador Lindbergh Farias (PT) telefonou para dizer que conseguiu marcar para segunda-feira (28) uma reunião com o ministro do Trabalho e Emprego, Miguel Rossetto, com o objetivo de encontrar alternativas aos cortes, que podem ser em número menor que o calculado pelo sindicato.

Os deputados federais Deley de Oliveira (PTB, atualmente licenciado), Fernando Jordão (PMDB) e Alexandre Serfiotis (PSD) foram convidados a participar, junto com a comitiva do sindicato.

Deley lembrou que a decisão do governo americano de taxar o aço proveniente do Brasil, China, Índia e Rússia gerou problemas para a CSN, que também enfrenta dificuldades no mercado interno com a concorrência dos chineses. O parlamentar afirmou que o Brasil deveria tomar iniciativa semelhante à dos EUA para proteger o mercado interno, e lembrou que é hora de cobrar da Companhia o apoio dado pelo governo federal a suas iniciativas.

— Precisamos aproveitar a ida a Brasília para falar com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que tem em sua alçada o BNDES, um dos maiores credores da CSN. A crise é da siderurgia e jogar o ônus sobre as costas do trabalhador é uma covardia — disse ele.

Fernando Jordão lembrou que a crise, que está chegando agora a Volta Redonda, com os possíveis cortes na CSN, já se instalou em Angra dos Reis, com milhares de demissões no estaleiro Brasfels e nas obras a usina nuclear Angra 3.

Jordão falou especificamente da Sete Brasil, empresa criada para adquirir plataformas e depois arrendá-las à Petrobras, e que, envolvida nos escândalos da Operação Lava Jato, tem uma dívida bilionária com o Brasfels, apontada como causa das demissões no município da Costa Verde.

— A região tem que se unir, se mobilizar. Precisamos cobrar da presidente Dilma Rousseff (PT) uma posição sobre os pagamentos atrasados ao Brasfels. Ninguém sabe quem é a Sete Brasil, mas a Petrobras todos conhecem. É a Petrobras que tem que resolver essa situação. Sobre a CSN, acredito que o Benjamin (Steinbruch, presidente da empresa) está fazendo pressão para conseguir mais dinheiro do BNDES — disse, acrescentando que o PMDB está a favor da governabilidade de Dilma Rousseff e é preciso cobrar dela uma posição.

— Estamos a favor da governabilidade de Dilma Rousseff. Não votei nela, mas, hoje, tirá-la do poder seria pior — declarou.

Alexandre Serfiotis disse temer que sua preocupação é que demore dez anos para sair da situação atual, e também acredita que seria bom procurar o MDIC. Durante a reunião, ele foi informado por sua assessoria que o ministro titular está de férias e que seu substituto também tirou um período de descanso: “Isso é um absurdo. Um ministério como esse ficar sem comando no auge de uma crise econômica. Vou tentar encontrar alguém no MDIC que possa nos atender”, afirmou.

O vice-prefeito de Volta Redonda, Carlos Roberto Paiva (PT), disse que Volta Redonda não suportaria demissões em massa. Ele propôs envolver o comércio, que também tem a perder com as dispensas, e fazer um esforço como o da crise de 2008/2009: “Precisamos abrir novos canais para diálogo”, disse.

O deputado estadual Nelson Gonçalves (PSD) afirmou que está mantendo contato com governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) solicitando apoio a fim de evitar as demissões na CSN. O parlamentar garantiu, durante reunião com sindicato, que vai se empenhar em conseguir apoios junto ao governo do estado para garantir os empregos dos trabalhadores de Volta Redonda.

— As demissões serão de impacto negativo muito grande para a cidade e o Sul do Estado, sendo que esse processo poderá atingir as empresas terceirizadas, afetando o comércio das nossas cidades, assim como a nossa economia. Em função deste quadro preocupante, precisamos unir forças políticas e de todos os cidadãos a fim de evitarmos que estas demissões – ressaltou o deputado Nelson Gonçalves.

O presidente da Câmara Municipal de Volta Redonda, Paulo Conrado (PSD), afirmou que é preciso lembrar que a CSN não socializou o lucro que obteve nos anos de crescimento econômico, e que não é correto cobrar a conta da crise do trabalhador.

O presidente da Câmara Municipal de Barra Mansa, Marcelo Borges, disse que os cortes na CSN vão prejudicar também Barra Mansa e afirmou que vai se juntar à luta contra as demissões, lembrando que há indícios de problemas sérios em duas empresas do setor metalúrgico em Barra Mansa: a Saint-Gobain e a Votorantim Siderurgia (SBM).

O próximo presidente da Câmara Municipal de Volta Redonda, Edson Quinto, afirmou tem a impressão de que a CSN estaria “dando uma resposta” às pressões que tem recebido nas áreas ambiental e trabalhista, e acrescentou que é o momento de deixar de lado as divergências: “tem que estar todo mundo abraçado por uma causa só”, disse.

De acordo com o vereador Fernando Martins (PSDC), que participou do evento, esse é um descaso com os trabalhadores que não pode ser aceito pelas pessoas.

– Entendemos a posição da empresa, mas não podemos aceitar esse total descaso com os trabalhadores. Acredito que juntos podemos encontrar uma solução para ajudar a empresa a enfrentar a crise, sem descontar na população de Volta Redonda. É o momento de todos estarmos unidos em prol dos empregos em nossa cidade – declarou Fernando Martins, que transmitiu a informação de que o deputado estadual Edson Albertassi (PMDB), que ficou impossibilitado de ir ao encontro, se colocou à disposição para colaborar na busca de soluções.

O vereador de Barra Mansa Rodrigo Drable (PMDB) ressaltou que os cortes não afetarão apenas o município: “Barra Mansa também será atingida. Muitos barramansenses trabalham na CSN. Além disso, a expectativa do desemprego vai fazer com que as pessoas aumentem a demanda por serviços públicos de saúde e educação”.

O vereador voltarredondense José Augusto (PDT) lembrou que o ex-senador Ciro Gomes, hoje diretor da CSN, está filiado ao partido. Ele disse que tentará um contato com ele através do presidente do partido, Carlos Lupi.

 Número de demissões pode ser menor

O presidente do Sindicato, Silvio Campos, afirmou que o número de demissões – que seria de três mil – não é uma informação da empresa. Silvio explicou que a quantidade foi calculada em função dos equipamentos que deverão ter a operação suspensa pela siderúrgica: o Alto-Forno 2 e a Sinterização 2.

— Como conhecemos bem a empresa, calculamos o número de pessoas que seriam demitidas com as paradas desses equipamentos e consideramos ainda a diminuição na atividade de outros setores, como a laminação, que terão menos trabalho com a redução na produção de aço — calculou Silvio.

Silvio Campos e João Thomaz divergem sobre data dos cortes

A informação de Silvio de que as demissões já seriam efetuadas esta semana foi contestada pelo presidente do Sindicato dos Engenheiros, João Thomaz. O engenheiro disse que as rescisões de contrato de trabalho precisam ser informadas com uma semana de antecedência e que não houve agendamento de rescisões além do número normal previsto na empresa.

No entanto, Silvio Campos afirmou que foi chamado na segunda-feira (21) pela empresa para ser comunicado sobre os cortes, que estariam previstos para serem realizados ainda esta semana. O sindicalista informou que argumentou com a direção da empresa e conseguiu que as dispensas fossem adiadas.

— Com esse adiamento, consegui, além de evitar que muitas famílias tivessem uma tristeza nesse período, ganhar algum tempo para tentarmos negociar com a empresa uma alternativa aos cortes — disse.

Governo tenta estreitar relações entre CSN e montadoras para venda de aço

Volta Redonda fica a cerca de 50 quilômetros de Resende. É a distância entre a maior siderúrgica do país e o maior polo automobilístico do Estado do Rio. No entanto, os dois centros produtivos não guardam bons índices de comércio entre si. Para reverter esse quadro, o Governo do Estado está com um programa em andamento para tentar estreitar as relações comerciais entre a CSN e as montadoras de veículos instaladas no Sul Fluminense.

O objetivo é possibilitar que as montadoras passem a comprar aço produzido em Volta Redonda, amenizando a crise atual. Questionários foram elaborados pelo Governo do Estado buscando informações sobre como andam os negócios entre as empresas automobilísticas e a siderúrgica.

As perguntas levantam quais são as maiores dificuldades encontradas para que o aço da CSN seja aproveitado pelas montadoras da região. Na volta dos feriados será apresentada a tabulação dos questionários, que devem ajudar a superar entraves que hoje impedem um fluxo maior de negócios entre empresas próximas.

– Já temos os questionários respondidos e agora vamos passar para a tabulação. Em seguida, vamos nos reunir com a CSN e buscar maneiras de resolver todo e qualquer empecilho que possa existir. Estou lendo algumas coisas absurdas. São empresas que estão do lado uma da outra. Não tem lógica não se relacionarem melhor – disse o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços, Marco Capute.

O secretário ressaltou que ontem manteve teleconferências com o prefeito de Volta Redonda, Antônio Francisco Neto (PMDB), que vai ajudar na formação do elo entre as montadoras e a CSN.

– O Neto me ligou e sabemos que ele tem essa liderança política na região, é bem relacionado com todas as partes. Ele já se prontificou e vai nos ajudar muito nisso. Esse próximo passo será dado com apoio do prefeito – ressaltou Capute.

Neto faz contato com Estado e CSN

O prefeito Antônio Francisco Neto (PMDB) confirmou os contatos com Capute e informou ainda que falou também com o diretor Corporativo Institucional da CSN, Luiz Paulo Barreto. Com os dois, ele falou sobre a crise. Neto destacou a agilidade de Marco Capute.

– O Capute é dinâmico, já estava com esse programa em andamento e agora vamos acelerar isso. Nosso objetivo é montar uma força-tarefa para evitar estas demissões. Vamos unir esforços em torno da CSN e ajudar naquilo que for possível – disse o prefeito.

Com relação à teleconferência que teve com Luiz Paulo Barreto, o prefeito afirmou que se colocou à disposição para ajudar a empresa. “O único foco é tentar evitar as demissões”, disse Neto.

O prefeito destacou que o primeiro passo para entender o que está acontecendo no país é reconhecer a crise e as dificuldades que todos estão passando, seja no setor público ou no privado

– Temos de unir todas as forças, sejam políticas, econômicas, religiosas ou populares para remar no mesmo sentido, que é ajudar a CSN a manter estes empregos. Para isso, temos de ajudar a empresa a vender seu produto: o aço. Temos de ajudar a reduzir os estoques – completou o prefeito.

Sobre a diferença de números de possíveis trabalhadores demitidos, Neto argumentou que a meta é tentar evitar qualquer desligamento. “Na conversa com o Barreto ficou claro que esse número de três mil não saiu da empresa. E também que os 35% dos cortes pode não ser esse percentual. Mas isso agora pouco importa, pois temos de evitar toda e qualquer demissão”, disse Neto.